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A exposição virtual “Maria Duschenes: expressão da liberdade” é dedicada a compartilhar a história e o legado deixado pela bailarina, coreógrafa e educadora Maria Duschenes, que influenciou gerações de bailarinos, coreógrafos, professores, psicólogos, terapeutas, pedagogos, atores, artistas plásticos, músicos, entre outros. Criadora de uma metodologia própria, acreditava que qualquer pessoa chegaria a um corpo expressivo pela Arte do Movimento.
Esta exposição apresenta uma linha do tempo com informações históricas da vida e da carreira de Duschenes, relacionadas a acontecimentos do Brasil e, especificamente, da cidade de São Paulo, ilustradas por itens de acervo (fotos, documentos e vídeos). O contato com o legado deixado pela artista se dá pelos depoimentos de ex-alunos e familiares, que compartilham suas memórias sobre a artista. Por fim, é apresentada uma bibliografia na qual temas abordados por esta exposição são aprofundados.
Nascida em 26 de agosto de 1922 em Budapeste, na Hungria, Maria Duschenes iniciou sua formação em dança aos 11 anos de idade na escola de Olga Szentpál (1895 - 1968), pioneira da dança moderna húngara. Nesta ocasião, teve contato com o método Dalcroze Eurhythmics, criado pelo músico suíço Emile Jacques Dalcroze (1865 - 1950), era fundamentado nos ritmos corporais relacionados com o pensamento e o movimento corporal. Esse sistema de ensino influenciou outros grandes bailarinos e coreógrafos, como Rudolf Laban (1879 - 1958), Mary Wigman (1886 - 1973), Hanya Holm (1893 - 1992), Kurt Joos (1901 - 1979), Yanka Rudska (1910 - 2008), Renée Gumiel (1913 - 2006).
Aos 15 anos de idade, Duschenes iniciou seus estudos em dança clássica com Aurel von Millos (1906 - 1988), que à época era coreógrafo assistente no Teatro Nacional de Budapeste, na Hungria. Em seguida, foi para a Inglaterra estudar na Jooss-Leeder School of Dance, localizada em Dartington Hall. Considerada um centro das artes, a escola oferecia um amplo currículo com técnicas de improvisação, Eucinética, sequências na barra, relaxamento, conscientização, maquiagem, Labanotation, iluminação, percussão, música, teatro e artesanato, e ainda possibilitou o contato de Duschenes com grandes nomes da dança, como Kurt Jooss (1901 - 1979) e Sigurd Leeder (1902 - 1981). Em consequências aos bombardeios no início da Segunda Guerra Mundial (1939 - 1945), a Jooss-Leeder School of Dance foi fechada e, em 1940, Duschenes partiu para o Brasil com uma formação arrojada em sua bagagem.
Em São Paulo, Duschenes começou a ter contato com a dança moderna de outros expoentes, como Chinita Ullmann (1904 - 1977), Kitty Bodenheim (1912 - 2003) e Vaslav Veltchek (1897 - 1967), Maria Olenewa (1896 - 1965), Yanka Rudzka (1916 - 2008), Renée Gumiel (1913 - 2006) e Ruth Rachou.
Casou-se aos 20 anos com o seu grande parceiro de vida e arte, Herbert Duschenes (1914 - 2003), com quem dividiu produções cênicas. Contraiu poliomielite aos 22 anos e, graças aos ensinamentos sobre consciência corporal adquiridos em Dartington Hall, superou as piores sequelas da doença e nunca deixou de atuar na área da dança.
Enriquecendo ainda mais seus conhecimentos, estudou com a mestra Lisa Ullmann (1907 -1985), parceira de Laban e com Doris Humphrey (1895 - 1958), com Martha Graham (1894 -1991), José Limon (1908 - 1972) e Merce Cunningham (1919 - 2009).
A contribuição de Maria Duschenes para a história da dança é imensurável. Foi a responsável por trazer ao Brasil a Teoria do Movimento de Laban, e o método Dalcroze Eurhythmics. Como educadora, valorizava o repertório de movimento de cada aluno, num ambiente de pesquisa propício à criatividade para novas buscas. Introduziu a dança educativa nas bibliotecas públicas infantojuvenis e em outros espaços, através do projeto Dança/Arte do Movimento, para crianças e funcionários públicos, encampado por dez anos (1984 - 1994) pela Secretaria Municipal de Cultura (SMC) de São Paulo. Duschenes ocupou com sua dança lugares inusitados, como igrejas, praças, estacionamento, parques e outros. Realizou danças corais com grandes grupos de crianças e adultos com a participação dos grupos de professores formados por ela, culminando em eventos coletivos harmônicos e de uma beleza singular.
O legado de Maria Duschenes é como o mar: sem fim e sempre em movimento.
Idealização, curadoria e produção: MUD - Museu da Dança e Maria Mommensohn
Pesquisa e textos: Simone Alcântara
Estagiárias: Isadora Dieb (catalogação) e Tatyana Carla (catalogação),
Taciana Vaz (revisão de textos)
Gravação e edição dos vídeos: Rafael Petri
Fotos: Herbert Duschenes, K. K. Alcovér, Marinez Maravalhas, Normet Piola, Sérgio Sandler e Sossô Parma
Auxílio na identificação dos vídeos e fotos: Acácio Vallim Jr., Analivia Cordeiro, Cybele Cavalcanti, Cilô Lacava, Patricia Noronha, Renata Macedo, Silvia Duschenes e Solange Arruda.
Webdesign e inteligência do site: Dracco Publicidade
Convidados entrevistados (depoimentos): Acácio Vallim Jr., Ana Terra, Analivia Cordeiro, Antônio Delfino, Beto Martins, Cássia Navas, Cecília Pellegrini, Célia Gouvêa, Analivia Cordeiro, Cilô Lacava, Cybele Cavalcanti, Daniel Duschenes, Daniela Stasi, Daraina Pregnolatto, Dinho Nascimento, Doju Dinajara Freire, Dulce Maltez, Henrique Schuller, Janice Vieira, Jéssica Portella, Joana Lopes, Joya Eliezer, Karen Muller, Lala Deheinzelin, Lia Robatto, J. C. Violla, Marcelo Villares, Maria Mommensohn, Mariana Muniz, Marta Tereza Labriola, Mira Wajntal, Miriam Dascal, Nininha Araújo, Odete Machado, Patrícia Noronha, Renata Macedo, Rogério Migliorini, Ronaldo Duschenes, Rosana Marioto, Silvia de Ambrosis Pinheiro Machado, Silvia Duschenes, Solange Arruda, Sonia Silva, Tarsicio Tatit Sapienza, Uxa Xavier e Yolanda Amadei
Agradecimentos:
À família Duschenes, nas figuras de Daniel, Ronaldo e Silvia, pela doação do acervo de D. Maria e pela grande contribuição para construção desta exposição.
À Maria Mommensohn e Zé Renato pelo convite e confiança para realização deste trabalho.
À Julia Giannetti pela contribuição de sua pesquisa de mestrado sobre Maria Esther Stockler, a quem D. Maria foi parceira.
À Prefeitura do Município de São Paulo/ Secretaria Municipal de Cultura e também ao Centro Cultural São Paulo/ DADOC/ Arquivo Multimeios, pela disponibilização do acervo e atendimento às nossas solicitações.
Ao Núcleo de Fomento à Dança e toda sua equipe pelo brilhante trabalho e acompanhamento do projeto.
Ao Goethe-Institut São Paulo, na figura de Paulo Pina, por cederem alguns itens de seu acervo.
Ao Núcleo Morungaba e sua diretora Renata Macedo, pela doação de acervo e atenção em todo processo de pesquisa.
À EDASP – Escola de Dança de São Paulo, ao Estúdio Ruth Rachou, ao Itaú Cultural, à Livraria Cultura, à PUC - Pontifícia Universidade Católica e à Universidade Anhembi Morumbi por cederem seus espaços para gravação de algumas entrevistas.
Aos fotógrafos - K. K. Alcovér, Marinez Maravalhas, Normet Piola, Sérgio Sandler e Sossô Parma - que gentilmente cederam suas imagens para compor esta exposição.
Ao Grupo de Improvisação de Movimentos Maria Duschenes, pela dedicação à este projeto.
À Cilô Lacava, Lala Deheinzelin, Marta Tereza Labriola, Miriam Dascal, Patrícia Noronha, Rosana Marioto, Solange Arruda e Sonia Silva pela doação de seus acervos pessoais e auxílio na pesquisa.
E a todos os ex-alunos de D. Maria, que gentilmente cederam seus depoimentos para preservação da história da dança brasileira.
Esta exposição foi realizada a partir do convite de Maria Mommensohn para integrar o projeto “Vescica Piscis” contemplado pelo 18º Edital de Fomento á Dança da cidade de São Paulo.
Nasce Maria Ranschburg, no dia 26 de agosto, em Budapeste, Hungria, filha de Edit e Paul Ranschburg.
O Movimento Modernista surge com a Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de 1922 no Theatro Municipal de São Paulo. Com o objetivo de renovação na literatura e nas artes e de questionamento político, o movimento propunha o rompimento com os modelos acadêmicos europeus consolidados no Brasil, defendia a liberdade de expressão e propunha como tema a essência da cultura brasileira. Participaram do movimento importantes figuras, como: Menotti del Picchia, Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Manuel Bandeira, Ribeiro Couto, Graça Aranha, Ronald de Carvalho, Guilherme de Almeida, Anita Malfatti, Zina Aita, Di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro, Victor Brecheret, Antonio Moya e Heitor Villa-Lobos. Entre várias palestras, leituras de poemas, exposições de pintura e musicais, a única representante da dança foi a bailarina Yvonne Daumerie, que apresentou uma performance.
A bailarina russa Eugenie de Villeneuve, casada com o conde de Villeneuve e ex-integrante dos Ballets Russes de Diaghilev (1909 - 1929), foi considerada uma das primeiras professoras de balé para apresentações cênicas na cidade de São Paulo.
Ainda com a companhia russa, apresentou-se no Rio de Janeiro em 1923, com o partner Orea Wodoz. Mudou-se para São Paulo em seguida, onde passou a ministrar aulas de balé no Conservatório Dramático Musical de São Paulo, localizado no centro da cidade, e em sua residência, na rua Doutor Vila Nova (nome dado em homenagem aos Villeneuve), no bairro Vila Buarque.
Após o inesperado suicídio de Eugenie de Villeneuve, a montagem da ópera A Bela Adormecida, do compositor e político brasileiro Carlos de Campos (1866 - 1927), que estava em andamento com seus alunos, teve continuidade com a bailarina brasileira Yvonne Daumerie (1903 - 1977). A ópera estreou no Theatro Municipal de São Paulo em 1924 (ano de início do mandato de Campos como presidente do estado de São Paulo).
A Escola de Dança, Artes e Técnicas do Theatro Municipal Maria Olenewa foi a primeira escola de formação em dança do Brasil. Foi fundada em 21 de abril de 1927, no Rio de Janeiro, pela bailarina russa Maria Olenewa (1896-1965) e pelo crítico teatral brasileiro Mário Nunes (1886 - 1968).
Inicialmente, a escola formava bailarinos de apoio para as temporadas líricas do Theatro Municipal. Mas seu principal objetivo foi atingido em 1936, quando formou-se o Corpo de Baile do Theatro Municipal – o que proporcionou, já no ano seguinte, a abertura das temporadas com apresentações exclusivas de balé.
Maria Olenewa permaneceu na direção da escola até 1942.
Renomados bailarinos passaram por lá: Madeleine Rosay, Berta Rosanova, Ady Addor, Cícero Gomes, Denis Gray, Márcia Haydée, Nora Esteves, entre outros.
Batizada em 1982 como Escola Estadual de Dança Maria Olenewa (EEDMO), pela parceria com a Secretaria de Estado da Cultura, hoje é reconhecida como escola técnica profissionalizante com formação em Técnico-Bailarino para Corpo de Baile. Além do ensino do balé clássico, o curso oferece outras disciplinas, como Labanotation, Educação Musical e Improvisação.
A Revolução de 1930 promoveu a reestruturação da produção nacional, o que resultou no fim da hegemonia da burguesia cafeeira. Com as dificuldades econômicas no país, desde a Crise de 1929, a prioridade era a expansão do mercado interno com base na industrialização e na agricultura diversificada.
Considerada o Golpe de 1930, a revolução foi um movimento armado, liderado por Getúlio Vargas (1883 - 1954) - que, ao ser derrotado nas eleições presidenciais, derrubou o presidente Washington Luis (1869 - 1957) e impediu a posse de Júlio Prestes (1882 - 1946).
O governo provisório foi instaurado em 3 de novembro de 1930, quando Getúlio Vargas toma posse, e foi considerado como o seu primeiro mandato (1930 - 1945).
Em 9 de julho de 1932, a Revolução Constitucionalista emergiu na capital de São Paulo, sendo a primeira grande revolta contra o Governo Provisório de Getúlio Vargas. Foi um dos mais dramáticos conflitos civis da história do estado, com a participação de militares e civis.
O Partido Democrático (PD) de São Paulo rompe com Getúlio Vargas e une-se ao Partido Republicano Paulista (PRP), resultando na formação da Frente Única Paulista (FUP) – que reivindicava o fim da ditadura e liderou a revolução.
Foram quase três meses de combate sangrento, que contou com amplo apoio da classe média dos centros urbanos e da burguesia industrial, para o fornecimento de armamentos, porém, o isolamento político do estado de São Paulo, a falta do apoio dos estados de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul e o cerco das tropas do governo Vargas levaram o movimento popular paulista à derrota militar. Mas foi uma vitória política importante ao estado, que voltou a ser governado pelos paulistas.
Maria Duschenes iniciou sua formação em dança, aos 11 anos de idade, baseada no método Dalcroze Eurhythmics, na escola dirigida pela professora, coreógrafa e teórica Olga Szentpál (1895 - 1968), em Budapeste.
Considerada a pioneira da dança moderna húngara, Olga Szentpál estudou na escola do músico suíço Emile Jacques Dalcroze (1865 - 1950), cujo sistema de ensino era fundamentado nos ritmos corporais relacionados com o pensamento e o movimento corporal.
Também frequentaram a escola de Emile Jacques Dalcroze, situada em Hellerau, Alemanha, importantes bailarinos e coreógrafos, como Rudolf Laban (1879-1958), Mary Wigman (1886 - 1973), Hanya Holm (1893-1992), Kurt Joos (1901 - 1979), Yanka Rudska (1910 - 2008), Renée Gumiel (1913 - 2006), entre outros.
Maria Duschenes, permaneceu 4 anos na escola de Olga Szentpál, cujos estudos levou em sua trajetória de vida e de educadora da dança, agregando às suas pesquisas sobre o movimento humano.
Ao chegar no Brasil, nos anos de 1940, foi a percursora do método de Emile Jacques Dalcroze e de Rudolf Laban.
Confira o acervoA Academia de Bailado, fundada em 1932 na cidade de São Paulo, pelas bailarinas Chinita Ullman (1904 - 1977) e Kitty Bodenheim (1912 - 2003), foi considerada a primeira escola de dança moderna do Brasil.
Chinita Friedel Ullman, gaúcha, filha de mãe brasileira e pai alemão, formou-se em dança na escola alemã Dresden Central School, de Mary Wigman (1886 - 1973), integrou a companhia de Wigman e atuou como intérprete e coreógrafa em vários países da Europa, Estados Unidos e América Latina.
Foi em Dresden que Ullman conheceu a alemã Kitty Bodenheim. Em 1932, voltaram juntas ao Brasil e se estabeleceram em São Paulo, onde fundaram a Academia de Bailado, no centro da cidade.
O objetivo da escola era formar bailarinos tecnicamente bons, expressivos e criativos, visando a harmonia corporal de cada um. As aulas de dança clássica eram ministradas por Kitty Bodenheim, enquanto as aulas de dança moderna, por Chinita Ullman – com ênfase em improvisação, composição coreográfica e estudos rítmico-musicais.
Além das atividades da escola, Chinita Ullman frequentava os movimentos culturais da cidade e organizava encontros em sua própria casa para discutirem a produção artístico-cultural brasileira. A partir desses contatos, estreitou a amizade com Lasar Segall (1891 - 1957), Victor Brecheret (1894 - 1955) e, em especial, com Mário de Andrade (1893 - 1945).
Ainda em 1932, ao lado da parceira Kitty Bodenheim, foram fundadoras e membros da primeira diretoria eleita da Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), um local para discutir a arte moderna e a política.
Juntas coreografaram, no Carnaval de 1934, uma das grandes encenações da SPAM, realizadas num rinque de patinação da rua Martinico Prado, no centro de São Paulo: “Expedições às matas virgens da Spamolândia”.
Ficha Técnica de “Expedições às matas virgens da Spamolândia”:
Direção: Lasar Segall | Coreografia: Chinita Ullman e Kitty Bodenheim | Música: Camargo Guarnieri e Ernst Mahlich | Decoração (ambientação): Anita Malfatti, Arnaldo Barbosa, Anita Burmah, Armando Balloni, Esther Bessel, Gaston Worms, Gaudio Vuotti, Jayme da Silva telles, Jenny Segall, Marxitn Hasson, Paulo Mendes de Almeida, Paulo Rossi Osir | Temática: inspirada no discurso antropofágico e surrealista com animais antropomórficos, indígenas canibais e outros personagens | Participação: 80 atores, com a interação do público no final da encenação cênica.
Maria Duschenes permaneceu na escola de Olga Szentpál até os 15 anos de idade. Em seguida, fez aulas de técnica clássica, por um ano, na escola do húngaro Aurel Millos (1906 - 1988), que além de bailarino e professor, ocupava, naquela época, o cargo de coreógrafo assistente no Teatro Nacional de Budapeste, na Hungria.
Aurel Millos frequentou cursos com diferentes professores europeus de técnica clássica e, além disso, formou-se na escola da bailarina expressionista alemã Hertha Feist (1896 - 1990) e no Instituto Coreográfico de Zurique, do bailarino e coreógrafo expressionista alemão Rudolf Laban (1879-1958). Foi uma figura renomada da dança, e muito ativa na Europa.
Nos anos de 1950, Millos foi diretor artístico do Ballet IV Centenário (1953 - 1955), em São Paulo. Naquele momento, Maria Duschenes morava e dava aulas na cidade, disseminando o método Laban, A Arte do Movimento, o que vinha fazendo desde 1940.
Em setembro de 1937, Maria Duschenes ingressou na escola de dança mais conceituada na época, a Jooss-Leeder School of Dance, localizada em Dartington Hall, na Inglaterra.
A escola era considerada um verdadeiro centro das artes e de trocas de experiências. Lá, Duschenes teve diferentes professores e um currículo amplo, com aulas diárias de dança, tanto práticas quanto teóricas, que exploravam temas como: improvisação, Eucinética, sequências na barra, relaxamento, conscientização, maquiagem, Labanotation, iluminação, percussão, música, teatro e artesanato.
Além de frequentar as aulas da escola, Duschenes assistia aos ensaios de coreografias de Kurt Jooss (1901 - 1979) e, também, a apresentações de grupos de diversas partes do mundo; ela ainda frequentava festivais de arte e participava, como experimentação, do grupo mais velho de Sigurd Leeder (1902 - 1981).
Duschenes permaneceu na Jooss-Leeder School of Dance até o fechamento da escola, em setembro de 1939 – devido a bombardeios aéreos durante a II Grande Guerra (1939 - 1945), que deixaram a Inglaterra isolada.
As várias divergências políticas no Brasil, se firmaram durante as eleições de 1937 para a Presidência da República. Getúlio Vargas, no poder desde o golpe de 1930, anula as eleições com um novo golpe em 10 de novembro de 1937, com o apoio das Forças Armadas.
Instaurou-se então o Estado Novo, considerado o primeiro mandato de Getúlio Vargas (1937 - 1945), apoiado pela Carta Constitucional, que o permitiu restringir as liberdades políticas, controlar os movimentos dos trabalhadores e a mão-de-obra e industrializar o país. Um regime de ambiguidade entre a defesa do desenvolvimento econômico, da criação dos direitos sociais, de constante negociação com os trabalhadores e os proprietários e o apoio da Igreja e das Forças Armadas.
No início dos bombardeios da II Guerra Mundial (1939 - 1945), Getúlio Vargas era simpatizante do modelo fascista mas manteve a posição de neutralidade do país, até o início dos ataques dos alemães às embarcações brasileiras. Foi então que firmou acordo com o presidente americano Franklin Delano Roosevelt (1933 - 1945) e integrou o grupo dos países aliados (Estados Unidos, Inglaterra, França, União Soviética, entre outros).
O próprio autoritarismo do Estado Novo levou Vargas à queda em 1945. Além de ser um regime incompatível com a vitória dos aliados na Guerra, a sociedade brasileira já pleiteava um regime liberal democrático.
Em 1940, Maria Duschenes chega a São Paulo, onde seus pais já haviam se estabelecido - fugindo dos bombardeios na Europa durante a II Guerra Mundial. Iniciou sua vida profissional naquele mesmo ano, através do contato com a americana Miss Claire, que era professora de Educação Física do Colégio Presbiteriano Mackenzie. Miss Claire apreciava a dança de Rudolf Laban (1879 - 1958) e convidou Duschenes para coreografar a apresentação das crianças do ensino primário para o “Dia do Mackenzie”, em 16 de outubro.
Duschenes trabalhou com as crianças utilizando danças folclóricas do mundo como inspiração para compor a coreografia. Seu processo de trabalho encantou tanto as crianças como as mães, os pais e os professores. A partir daí, passou a dar aulas para crianças e adultos, firmando sua própria didática - como educadora e pesquisadora da dança.
Maria Duschenes retornou à Inglaterra, uma vez ao ano, por mais de dez anos para estudar com a bailarina alemã, Lisa Ullmann (1907-1985), fundadora com Rudolf Laban, da Art of Movement Centre, em Manchester. Confira os vídeosA Escola Experimental de Dança Clássica foi fundada pelo prefeito Francisco Prestes Maia (1938 - 1945), em 2 de maio de 1940, no Theatro Municipal de São Paulo. O objetivo da escola era formar jovens bailarinos como apoio às montagens das temporadas líricas nacionais e internacionais.
O primeiro diretor, o bailarino tcheco naturalizado brasileiro Vaslav Veltchek (1897 - 1967) – que estudou com Mary Wygman (1886 - 1973) e Rudolf Laban (1879 - 1958) –, unia o balé clássico e a dança moderna, o que resultou num excelente trabalho, formando um grupo de jovens amadores em bailarinos de nível profissional. Vários diretores que passaram pela escola mantiveram a qualidade de seus alunos, dentre esses diretores estão Maria Olenewa (1896 - 1965), Marilia Franco (1923 - 2006), Ady Addor (1940), Klauss Vianna (1928 - 1992), Gil Saboya, Acácio Vallim Junior e Esmeralda Gazal.
Em 1976, recebeu o nome de Escola Municipal de Bailado (EMB) e, desde 2011, sob a direção de Susana Yamauchi (1957-), passou a se chamar Escola de Dança de São Paulo (EDASP) e está localizada na Praça das Artes, no centro da cidade.
O alemão Herbert Duschenes (1914 - 2003) chegou ao Brasil, em 1940. Conheceu a jovem Maria Ranschburg através de amigos, em São Paulo, e apaixonou-se por ela quando a viu dançar pela primeira vez, sob uma árvore – era como ele próprio gostava de contar a história. Foi o início de um intenso amor, e uma cumplicidade que durou por mais de 60 anos. Casaram-se em janeiro de 1942 e na década de 1950 passaram a morar na casa projetada pelo próprio Herbert - arquiteto e professor de História da Arte - localizada no bairro Sumaré, em São Paulo.
Ali, D. Maria (como era chamada pelos alunos) dava suas aulas de dança, o casal recebia os alunos de Herbert, da Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP), para conversarem sobre a Arte, e também os amigos. Herbert e Maria Duschenes transformaram suas viagens pessoais em filmes sobre a dança e a vida em diferentes lugares do mundo, que dividiam com os alunos e os amigos.
O belo e amplo espaço da casa, que ficou conhecida como a “casa do Sumaré”, permaneceu na memória dos que lá frequentaram como um local de encontro com a natureza e com a generosidade do casal Duschenes em compartilhar seus conhecimentos de vida e sobre arte - que inevitavelmente se complementavam aos olhos do casal.
A dança moderna se estabelece, em São Paulo, na década de 1940. O contexto político-cultural construído pelo Movimento Modernista (desde 1922) e o fim do controle econômico da burguesia cafeeira (1930), estritamente dependente da cultura europeia, foi favorável para a formação e a produção em dança moderna.
As grandes contribuições na área da dança foram: a 1ª Escola de Dança Moderna, de Chinitta Ullman (1904 - 1977) e Kitty Bodenhein (1912 - 2003); a gestão do diretor Vaslav Veltchek (1897 - 1967) na Escola Experimental de Dança Clássica; e a permanência na cidade de Maria Duschenes (1922 - 2014) como precursora da Arte do Movimento no Brasil.
Em 1942, Chinita Ullman estreou o espetáculo “Quadros Amazônicos”, no Theatro Municipal de São Paulo. Ullman teve como mentor desta coreografia, seu amigo Mário de Andrade (1893 - 1945), cuja temática era baseada no folclore brasileiro, e interpretava as personagens Cobra Grande, Jaci, Caiçara, Saci, Urutu, Iara e Caapora, com música composta especialmente para o espetáculo por Francisco Mignone (1897 - 1986).
A crítica aplaudiu pelo tema tratado, pela originalidade e pelos movimentos expressivos. Foi considerado um marco que revelou um público interessado na dança que expressasse o homem livre, brasileiro e independente da cultura europeia.
Herbert e Maria Duschenes tiveram dois filhos e sete netos.
Seu primeiro filho, Ronaldo Duschenes, nasceu em novembro de 1943, e em 1952 tiveram Silvia Beatriz Duschenes Nader. Os dois, além de crescerem em um rico ambiente artístico e cultural criado pelos seus pais na casa do Sumaré, participavam das aulas de improvisação de D. Maria. bre
Ronaldo seguiu a carreira de empresário e Silvia se dedicou à dança como bailarina e professora, tendo desenvolvido uma metodologia própria de trabalho.
Aos 22 anos, meses depois do nascimento de seu primeiro filho, Ronaldo, Maria Duschenes contraiu poliomielite – doença contagiosa viral que pode causar paralisia total ou parcial dos movimentos –, cuja vacina para a cura só foi descoberta em 1960.
Mas Duschenes, mesmo com todas as dificuldades enfrentadas devido à paralisia, nunca parou de dançar. Segundo ela, em entrevista cedida à pesquisadora Cássia Navas em outubro de 1991, em São Paulo, o domínio dos sentidos ao se movimentar, adquirido desde pequena nas aulas de improvisação, a ajudaram a continuar os seus ensinamentos sobre o movimento humano às pessoas.
Além de todo o apoio de seu marido, Herbert, teve o acompanhamento da professora de ginástica corretiva Ruth Metzner, que trabalhava o corpo como um todo, a partir dos movimentos naturais e com exercícios de muita expressividade. Metzner não só elaborou um treinamento para a recuperação de D. Maria, como também a ajudava nas criações de suas sequências para as aulas e na elaboração de como mostrá-las aos alunos de forma que compreendessem a proposta.
D. Maria continuou a dar aulas, se movimentando à sua maneira, coreografou espetáculos, foi pioneira da Arte do Movimento no Brasil e foi ainda mãe pela segunda vez.
A bailarina e coreógrafa russa Maria Olenewa (1896 - 1965) fundou, em 1947, a escola Curso de Danças Clássicas Maria Olenewa, em São Paulo.
Após ocupar o cargo de diretora da Escola Municipal de São Paulo, se dedicou à sua própria escola que deu origem à companhia São Paulo Ballet (1949), mantendo suas atividades até a sua morte, em 1965.
Em 1948, a bailarina e coreógrafa gaúcha Chinita Ullman (1904 - 1977) foi professora na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD-USP).
Ullman foi convidada por Alfredo Mesquita (1907 - 1986) a dar aulas no curso de formação de atores da EAD-USP, onde desenvolveu a técnica de livre expressão e espontaneidade do movimento.
Neste ano, Maria e Herbert Duschenes (1914 - 2003) produzem o vídeo “Campos do Jordão - uma interpretação pela dança e fotografia”. No vídeo gravado por Herbert, D. Maria dança em relação a paisagem das araucárias de Campos do Jordão (SP).
Confira os vídeosOs anos de 1950 iniciaram com dois fatos marcantes na história de vida de Maria Duschenes. Ela se naturaliza brasileira e, após os últimos anos em intenso tratamento para combater a poliomielite, que a deixou quase sem movimento, volta a dar suas aulas em sua própria casa – conhecida pelos alunos como a “casa do Sumaré”, pela sua localização no bairro de mesmo nome.
O arrojado projeto arquitetônico de seu marido, Herbert Duschenes (1914-2013), ficou na memória de alunos de D. Maria como um espaço muito especial, com o qual interagiam através das portas abertas entre a sala de aula e o jardim.
Duschenes trabalhava com grupos pequenos de improvisação devido aos seus impedimentos corporais. Segundo seus alunos, ela apontava, a cada um deles, o potencial e a dificuldade que o seu olhar cuidadosamente percebia durante as aulas, e incentivava-os todos a encontrar os seus próprios caminhos para dançar.
Na década de 1950, pelo escasso mercado de trabalho na área da dança, a inauguração da Companhia Cinematográfica Vera Cruz (1949) e dos canais de televisão, como a TV Tupi (1950), TV Paulista (1950) e a TV Record (1953), tornaram-se opções de trabalho para bailarinos clássicos e modernos.
Muitos bailarinos, além de participações em espetáculos musicais e de comédia do Teatro de Revista, trabalhavam em boates à noite. Começaram também a trabalhar no cinema, em filmes de longa metragem de chanchadas, comédias e musicais e nos canais de televisão – se apresentando em programas de encenações com atores, musicais, entre outros.
Em 1951, Getúlio Vargas (1882 - 1954) assumiu novamente a presidência do Brasil, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB). Nesse segundo mandato, de 1951 a 1954, Vargas retomou o plano de desenvolvimento nacionalista com extrema radicalização política.
O fim do governo getulista ficou marcado pelo suicídio de Vargas, em 24 de agosto de 1951.
Em 27 de abril de 1952, nasce a segunda filha do casal Maria e Herbert Duchenes, Silvia Beatriz Duschenes Nader.
Silvia, aluna de D. Maria, desenvolveu um trabalho de dança profissional, fundamentado nos conceitos e na metodologia de Rudolf Laban (1897-1958). Suas aulas eram baseadas no movimento natural de Laban, mas com uma técnica mais voltada para o bailarino profissional de dança cênica. Segundo ela, era também um complemento da formação dos alunos de D. Maria que se interessavam pela preparação técnica para atuarem no palco.
Ela trabalhou com alunos adultos, mas também deu aulas para adolescentes e crianças.
Após seu casamento com Camilo Nader, Silvia teve três filhas e deixou de dar aulas para dedicar-se à família e também à carreira de empresária.
À convite do maestro alemão Hans Joachim Koellreuter (1915 - 2005), a bailarina e coreógrafa polonesa Yanka Rudzka (1910 - 2008) criou e implantou em São Paulo a 1ª Escola de Dança Moderna, no Museu de Arte de São Paulo (MASP). O projeto fazia parte da Escola Livre de Música da Pró-Arte do MASP.
Ainda em 1952, fundou o 1o Conjunto de Dança Moderna, formado por suas alunas Gloria Moreira, Lia Robatto, Lydia Chamis, Norma Ribeiro e Yolanda Amadei. A primeira apresentação do grupo foi em junho de 1956, no Recital de Dança Moderna Expressiva, e em 1961 se apresentaram no Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), ambos em São Paulo.
Rudzka, considerada uma das percursoras da dança expressionista alemã no Brasil, fundou, ainda em 1956, a primeira escola brasileira de dança de nível superior, na Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Alguns anos depois voltou à São Paulo e realizou coreografias para o cinema brasileiro, deu cursos para atores profissionais, professores de Educação Física e lecionou na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo (EAD-USP).
O Ballet do IV Centenário (1953 - 1955) nasceu da iniciativa da Comissão do IV Centenário de São Paulo, presidida por Francisco Matarazzo Sobrinho (1898 – 1977) para os festejos de 400 anos da cidade.
A companhia era formada por 60 bailarinos com a idade entre 14 e 20 anos, dirigidos pelo bailarino e coreógrafo húngaro Aurel von Millus (1906 - 1988).
A estreia do Ballet do IV Centenário aconteceu de 2 a 15 de novembro de 1954 na quadra de basquete do Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho (conhecido como Pacaembu), especialmente adaptada para o evento, devido ao atraso da reforma do Theatro Municipal de São Paulo, realizada pela Prefeitura de São Paulo.
Apresentaram 16 coreografias com temáticas brasileiras, sendo a música, os cenários e os figurinos criados por artistas brasileiros. Participaram os bailarinos: Ady Addor, Gil Saboya, Márika Gidali, Ismael Guiser, Lia Marques, Vera Maia, Victor Aukstin, Ruth Rachou, Yolanda Verdier, Edith Pudelko, Lia Dell’Lara, Mozart Xavier, entre outros.
A companhia foi encerrada pelo prefeito Jânio Quadros (1917 - 1992), em dezembro de 1955, que segundo ele não fazia sentido mantê-la, uma vez que foi criada somente para o evento dos 400 anos da cidade de São Paulo.
A bailarina e coreógrafa russa Nina Verchinina (1910 - 1995) fundou, em 1954, a sua primeira escola, a Escola de Dança Moderna, no Rio de Janeiro.
Verchinina ensinava balé clássico e sua própria técnica de dança moderna, inspirada em Isadora Duncan (1877-1927) e, sobretudo, em Martha Graham (1894 - 1991).
Em 1957, montou, com a participação de alguns de seus alunos, o Ballet Nina Verchinina, que viajou pelo Brasil e para outros países onde se apresentaram.
A Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA) foi fundada em 1956, em Salvador (BA), como parte do projeto do reitor (médico e político baiano) Edgar do Rêgo Santos (1894 - 1962) de criação dos primeiros cursos de ensino superior em Dança, Música e Teatro.
A primeira diretora foi a bailarina, coreógrafa e professora húngara Yanka Ruzka (1910 - 2008), que teve como sua assistente a bailarina e coreógrafa paulista Lia Robatto.
Em 1960, a gestão do bailarino alemão Rolf Geleweski (1930 - 1988) teve grande impacto, com a reestruturação dos conteúdos pedagógicos da Escola de Dança. Em 1965, formou-se o importante Grupo de Dança Contemporânea (GDC) com a participação de Clyde Morgan, Dulce Aquino, Lia Robatto, Rolf Geleweski, Carmen Paternostro, Márcio Meirelles e Teresinha Argolo.
A Escola de Dança da UFBA é considerada uma das melhores escolas de dança do Brasil.
A bailarina e coreógrafa Renée Gumiel (1913 - 2006) fundou a sua primeira escola de dança moderna em São Paulo.
Gumiel estudou na escola do músico suíço Émile Jacques Dalcroze (1865 - 1950), em Hellerau, Alemanha, na Jooss-Leeder School of Dance, em Dartington Hall, na Inglaterra, fez parte do grupo Mudra do coréografo belga Maurice Béjart (1927 - 2007), entre outros. É considerada uma das precursoras da dança moderna no Brasil.
A primeira escola de Gumiel durou apenas 3 meses, mas no ano seguinte abriu sua segunda escola, ativa de 1958 a 1962, e em 1968 abriu a terceira, Ballet Renée Gumiel, que permaneceu em atividade até 1989.
Entre outras importantes ações, na área da dança e do teatro, Gumiel fundou a Companhia Contemporânea Brasileira, participou de movimentos no Teatro de Dança Galpão, do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), do Ballet Stagium e do Balé da Cidade de São Paulo.
Maria Duschenes frequentou cursos para professores de dança moderna, na Connecticut College School of Dance, em New London, Estados Unidos.
A escola foi criada em 1948, pela americana Martha Hill (1900-1995), bailarina e professora de dança moderna. Considerada referência em formação de educadores da dança, Hill montou o programa desses cursos tendo em vista professores de dança, grupos de dança universitários e jovens bailarinos como seu público alvo.
Naquela escola, Duschenes foi aluna de Doris Humphrey (1895-1958), José Limon (1908-1972), Martha Graham (1894-1991) e Merce Cunningham (1919-2009).
Maria Duschenes apresentou em 1960, a sua primeira coreografia, “Paixão e Ressurreição de Cristo” – baseada na peça “A Via Sacra”, do autor teatral francês Henri Gheón (1875 - 1944) –, no altar da Igreja de São Domingos e na Igreja do Perpétuo Socorro, em São Paulo.
Duschenes uniu o coro falado de atores ao canto dos frades beneditinos, e contou com a direção e a iluminação de Herbert Duschenes (1914-2013). Esse trabalho foi o início das montagens inovadoras de D. Maria, em espaços nada convencionais, como praças e parques públicos, igrejas, estacionamentos e pátios de colégios.
Para a realização desta apresentação, Duschenes obteve o apoio dos Seminários Livres de Música Pró-Arte (criados em 1952), sob a direção artística do maestro Hans-Joachin Koellreuter (1915-2005) – alemão, radicado no Brasil
Ficha técnica de “Paixão e Ressurreição de Cristo”:
Coreografia: Maria Duschenes | Evangelistas: Alvim Barbosa, Egydio Assunção, João Candido e Maria Celia Camargo | Conjunto coreográfico: Laerte Morrone, Helena Villar, Ilsa Schubert, Lydia Bohn e Yolanda Amadei
Na década de 1960 nasceram diversos movimentos culturais no Brasil com o objetivo de democratizar a arte e a cultura, possibilitanto a ampliação do universo cultural de segmentos populares.
No contexto do governo João Goulart (1919 - 1976), de forte mobilização popular no campo e nas cidades, em 1961, o Centro Popular de Cultura (CPC) foi fundado pela União Nacional dos Estudantes (UNE), com a participação de um grupo de intelectuais de esquerda do Rio de Janeiro (estado da Guanabara). Do núcleo formador do CPC, participaram Oduvaldo Viana Filho, Leon Hirszman e Carlos Estavam Martins e, por adesão, participaram Ferreira Gullar, Paulo Pontes, Carlos Lyra e outros.
Foram realizadas ações de forma engajada, como encenação de peças de teatros em portas de fábricas, favelas e sindicatos; publicações de cadernos de poesia a preços baixos; filmes autofinanciados, entre outros.
Na área da educação, em 1962, foi lançada a Campanha Nacional de Alfabetização, do presidente João Goulart, baseada na “pedagogia da libertação”, método do educador pernambucano Paulo Freire (1921-1997). O método Paulo Freire de alfabetização de adultos não utilizava cartilhas. Freire criou um sistema próprio de produção de materiais didáticos adequado à realidade e à fala de cada grupo de aprendizes.
O método foi aplicado com grande sucesso com camponeses pernambucanos, no Movimento de Cultura Popular (MCP), e em 1963 foi utilizado em Angicos e Natal (RN), Osasco (SP) e em Brasília (DF).
A vacina contra poliomielite foi descoberta em 1947, pelo médico americano Jonas Salk (1914 - 1995), mas ainda no final da década de 1950 era grande a epidemia pelo mundo.
Em 1961, o médico e pesquisador americano Albert Bruce Sabin (1906 - 1993) inovou a vacina, que então passou a ser via oral, contra a poliomielite. Com a modernização de Sabin, erradicou-se a doença em quase todo o mundo exceto em alguns países da África e da Ásia.
O trabalho de Maria Duschenes já tinha repercussão fora de São Paulo. Apresentou o espetáculo “Odisseia”, em 1962, no Rio de Janeiro, no auditório da Sociedade Pró-Arte de Artes, Ciências e Letras (Pró-Arte).
A Pró-Arte foi fundada em 1931, pelo marchand e animador cultural alemão Theodor Heuberger (1898- 1987), que se estabeleceu no Rio de Janeiro e tinha o objetivo de estabelecer o intercâmbio das artes entre Brasil e Alemanha.
Inspirada no poema épico, “Odisseia”, de Homero (século VIII a.C.), Duschenes criou a coreografia, fez a direção e também a iluminação do espetáculo.
Em dezembro do mesmo ano, apresentou “Odisseia”, no 1° Festival de Dança do Estado da Guanabara, realizado no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Nesse evento, estavam representadas, a dança folclórica, o balé clássico e a dança moderna por diferentes estados brasileiros. Em matéria do jornal carioca, A noite (edição de 05/12/1962), a dança moderna de São Paulo estava representada pelo Ballet de Renée Gumiel” e pelo “Grupo de Dança Moderna” de Maria Duschenes.
Ficha técnica “Odisséia”:
Direção e Iluminação: Maria Duschenes | Coreografia: Maria Duschenes, Cornelia Breslau, Maria Ester Stockler e Yolanda Amadei | Música: Kalamatiano (folclórica grega), Villa Lobos, Tanzmann e Ponce; percussão e Coro de jograis | Bailarinos do Conjunto de Dança folclórica grega contemporânea e Sandra Cintra Foz e Conjunto | Bailarinas do grupo de Maria Duschenes: Beatriz Fiocca, Beatriz Calvo, Cornelia Breslau, Doris Meyer, Edith Arnhold, Ilsa Schubert, Juliana Carneiro da Cunha, Lili da Silva Pudles, Maria Ester Stockler, Paula Carneiro da Cunha, Rosane Weinberg, Rosemaria Maffei, Ruth Mehler, Sandra Cintra Foz, Sonia Novinsky e Yolanda Amadei.
O Teatro Ruth Escobar foi inaugurado em 1963, pela atriz e produtora portuguesa Ruth Escobar, com o apoio da comunidade portuguesa de São Paulo. O objetivo foi abrir um espaço para a realização de atividades culturais variadas.
Com um caráter “revolucionário”, como a própria Escobar disse, a montagem de estreia foi a peça teatral “A Ópera dos três vinténs", do dramaturgo alemão Bertolt Brecht (1898-1956), sob a direção de José Renato (1926-2011), cenografia de Flávio Império (1935-1985) e a participação da bailarina, coreógrafa e atriz francesa Renée Gumiel (1913-2006).
Outros espetáculos que marcaram a fase moderna da dramaturgia brasileira estrearam naquele teatro, como “Roda Viva”, de Chico Buarque de Holanda, “Feira Paulista de Opinião”, de vários autores, “A Viagem”, de Carlos Queiroz Teles, e “O Balcão”, de Jean Genet.
Na década de 1970, Escobar cedeu uma das salas de espetáculos do teatro para a criação do Teatro de Dança Galpão (1974-1981).
Ainda em 1963, a bailarina e coreógrafa Renée Gumiel participou do 2º Encontro Nacional de Escolas de Dança do Brasil, realizado no Teatro Nacional, em Brasília. Gumiel apresentou “Huis Clos”, espetáculo baseado na peça teatral homônima do filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre (1905-1980), e "A Lenda do Rei Nagô", com preparação do poeta, ator e bailarino Solano Trindade (1908-1974) e da bailarina e coreógrafa Mercedes Batista (1921-2014).
Nesse evento, Gumiel destacou-se como a primeira coreógrafa a utilizar a música concreta em espetáculos de dança.
Em 1964, Maria Duschenes funda o grupo Móbile de dança contemporânea com as alunas, Maria Esther Stockler (1939-2006), Helena Villar Guanaes e Lili Pudles. Contou com a colaboração do artista plástico Tomoshige Kusuno e a participação de Juliana Carneiro da Cunha e Paula Carneiro da Cunha.
Segundo a pesquisadora Julia Corrêa Giannetti*, os solos da bailarina Maria Esther eram considerados muito autênticos. Em uma das apresentações do grupo Móbile, solou com músicas do indiano Ravi Shankar (1920 – 2012), de forma única, que parecia uma verdadeira meditação em cena. Em outra coreografia, Maria Esther propôs a Tomoshigue Kuzuno, um marcante solo, no qual ele fazia kata’s (movimentos de ataque e defesa das artes marciais que também são realizados na dança e no teatro).
O grupo tinha, além da dança e das artes visuais, contato com outras áreas artísticas de movimentos culturais de vanguarda, como o cinema, o teatro e a música.
As apresentações em São Paulo –, na Fundação Álvares Penteado (FAAP) e nos Seminários de Música da Pró-Arte –, dirigidas por Duschenes, tinham o formato de aula-espetáculo, divididas em duas partes: Parte I: “Poesia do Movimento no Espaço e no Tempo” e Parte II: “Somos Nós Donos do Espaço Criado por Nós"?
Em 1965, o Grupo Móbile passa a ser dirigido somente por Maria Esther Stockler, sendo que as coreografias de autoria sua, de Helena Villar e Tomoshige Kusuno foram apresentadas no mesmo ano no Teatro Ruth Escobar, também em São Paulo.
*GIANNETTI, Julia Corrêa. A dança marginal de Maria Esther Stockler: um dançar imagético. 2015. Dissertação (mestrado em Artes da Cena) - Programa de Pós-graduação em Artes da Cena. Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo.
Em 31 de março de 1964 deflagra-se o golpe militar contra o governo legalmente constituído de João Goulart e instaura-se o governo autoritário no Brasil, que iniciou um processo violento de perseguição, tortura e censura contra a população brasileira e durou 21 anos (1964 - 1985).
Em maio de 1964, a bailarina e coreógrafa francesa Renée Gumiel (1913 - 2006) fundou a Companhia de Dança Contemporânea Brasileira, que estreou no Teatro Aliança Francesa, em São Paulo – com o apoio da empresa francesa Rhodia – duas coreografias: “A Metamorfose”, baseada na novela do escritor tcheco Franz Kafka (1883 - 1924) e “A Curra”. Ambas tinham cunho de crítica política e social, mas não sofreram cortes pela censura como era hábito da prática do governo militar instaurado.
A Companhia de Dança Contemporânea Brasileira era formada pelos bailarinos Marika Gidali, Marilena Ansaldi, Peter Haydin e Victor Aukstin.
Em 1965 a coreografia “O Sacro e o Profano: muitas são as faces do homem”, de Maria Duschenes, foi apresentada em São Paulo, no auditório Theodor Heuberg, no Seminário da Pró-Arte de Música de São Paulo – dirigido pelo maestro alemão Hans-Joachim Koellreuter (1915-2015).
Essa coreografia foi apresentada pela primeira vez em 1950, em Teresópolis (RJ), quando da abertura dos Cursos Internacionais de Férias e no Festival Internacional de Música, criados pela Sociedade Pró-Arte de Artes, Ciências e Letras (Pró-Arte). Segundo D. Maria, foi um espetáculo de sucesso pela forma como mostrou as diferentes facetas do homem através da história.
Ficha Técnica “O Sacro e o Profano: muitas são as faces do homem”:
Coreografia: Maria Duschenes | Direção: Herbert Duschenes e Margarida Krepel | Cenário e Figurino: Rodrigo Cid
Em 1965, as emissoras de televisão ainda eram bons mercados de trabalho para os profissionais da dança. Os programas musicais tiveram mudanças significativas e, consequentemente, aos poucos, abriram mais espaços para a dança moderna.
As bailarinas e coreógrafas Renée Gumiel (1913 - 2006) e Marika Gidali apresentaram várias coreografias de dança moderna na TV Record (canal 7), em São Paulo. A partir de 1965, a televisão brasileira lançou uma nova linguagem para os programas musicais, que concorriam com os programas de rádio. Com os novos shows ao vivo e os festivais de música, além dos programas de comportamento, que uniam qualidade e popularidade, a audiência aumentou.
Em abril de 1965, a TV Excelsior (canal 9) realizou o "I Festival da Música Popular Brasileira", no Guarujá (SP), no qual a música “Arrastão“, de Edu Lobo e Vinícius de Moraes, interpretada por Elis Regina, levou o primeiro lugar, permanecendo na memória de muitos brasileiros.
A TV Record (canal 7) lançou programas semanais como “O Fino da Bossa”, com Elis Regina (1945 - 1982) e Jair Rodrigues (1939 - 2014), e “Jovem Guarda”, com Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa. Os festivais de música popular brasileira passaram a ser apresentados pela Record, ao vivo, a partir de 1966, em São Paulo.
Em 1966, o Conjunto de Dança Moderna Maria Duschenes estreou “As aventuras de Ulisses”, no Colégio Visconde Porto Seguro (fundado em 1878), em São Paulo.
Duschenes foi convidada pelo colégio que tinha como objetivo preservar a cultura alemã aos filhos dos imigrantes alemães estabelecidos no Brasil.
Duschenes coreografou e dirigiu o espetáculo e contou com assistência de direção de Ruth Mehler, que fez parte da primeira turma de alunos de D. Maria, assim como os demais bailarinos nesse espetáculo. O cenário e os figurinos foram criados pela designer Georgia Hauner e a instalação eletroacústica feita pela Taterka & Cia.
Em maio de 1966 foi fundado o Ballet de Câmara pelas bailarinas e coreógrafas Marika Gidali e Marilena Ansaldi, em São Paulo.
Além de Gidali e Ansaldi, o grupo era formado pelos bailarinos Peter Hayden e Victor Austin, pela bailarina e coreógrafa francesa Renée Gumiel (1913 - 2006), como coreógrafa convidada, e pela brasileira Ruth Rachou, como bailarina convidada.
As coreografias de Gumiel suscitavam críticas políticas e sociais à forte censura vigente naquele momento histórico de ditadura no Brasil.
Na estreia, o Ballet de Câmara apresentou “Ego”, “Aranha” e “Huis Clos”, esta última baseada na peça teatral do filósofo e escritor francês Jean-Paul Sartre (1905 – 1980), na Sala Gil Vicente do Teatro Ruth Escobar. Apresentaram, no mesmo ano, "O Muro”, também baseada na obra de Sartre, no programa de televisão “Bibi Ferreira”, no canal 9, além de “Caim e Abel”, criada especialmente para o grupo. Em 1967, reapresentaram “Huis Clos” na inauguração da TV Bandeirantes (canal 13), entre outros espetáculos.
Na área da música, de 1966 a 1969, a TV Record (canal 7) veiculou as quatro edições do "Festival da Música Popular Brasileira", que lançaram figuras marcantes da música no Brasil, como: Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Os Mutantes e Geraldo Vandré, entre outros.
Em 1967, o “III Festival de Música Popular Brasileira” foi considerado um marco do início do “Tropicalismo”, com a presença de Os Mutantes com a guitarra elétrica na música popular de Gilberto Gil, “Domingo no Parque”, e com a composição “Alegria, Alegria”, defendida por Caetano Veloso. O movimento tropicalista unia propostas vanguardistas com as manifestações mais tradicionais da cultura brasileira.
Ainda na Record, em 1967, estrearam programas semanais de grande audiência, como “Esta noite se Improvisa”, com Maria Bethânia, Nara Leão (1942 - 1989) e Simonal (1939 - 2000), entre outros intérpretes e compositores, e o programa de entretenimento “A Família Trapo”, que marcou época, com os atores e comediantes Ronald Golias (1929 - 2005), Jô Soares, Otello Zanoni (1921 - 1973) e grande elenco.
A coreografia “Fragmentação, Dualismo e Suíte Medieval” estreou em 1967, com o Conjunto de Dança Moderna Expressiva Maria Duschenes.
Faziam parte deste grupo, os alunos da primeira turma de D. Maria, como Yolanda Amadei, Analívia Cordeiro, Cybele Cavalcanti, Lia Robato e Helena Villar.
Neste espetáculo, Duschenes fez a direção e dividiu a criação coreográfica com o grupo de bailarinos; os figurinos foram confeccionados pela artista plástica Amélia Toledo e pela a arquiteta Paola Pestalozzi.
A convite do diretor de teatro, ator, crítico e ensaísta brasileiro Miroel Silveira (1914-1988), Maria Duchenes apresentou, em 1968, “Isocírculo 4”, no Teatro Anchieta, em São Paulo.
A música “Cronocromia” (1960), do compositor francês Olivier Messiaen (1908-1992), harmonizava com as ideias inovadoras de Duschenes. Com cadências exóticas e nada convencionais, “Cronocromia” era marcada por dezoito violinos, e cada um deles evocava um canto de pássaro diferente.
sA criação coreográfica e a direção foram de Maria Duschenes, o figurino da artista plástica, bailarina e dance computer Analívia Cordeiro e iluminação do cenógrafo Rodrigo Cid.
Em 7 de fevereiro de 1968 foi criado o Corpo de Baile do Teatro Municipal (CBTM) de São Paulo, por iniciativa da bailarina Lia Marques, e oficializado pelo prefeito José Vicente de Faria Lima (1965 - 1969).
Foi a primeira companhia estável da cidade de São Paulo, que tinha como objetivo dançar em óperas e abrir o mercado de trabalho para bailarinos profissionais. Teve como primeiro diretor o bailarino e coreógrafo Johnny Franklin (1934 – 1991), que trabalhou exclusivamente com repertório clássico romântico. Em 1974, com a entrada do bailarino e coreógrafo Antonio Carlos Cardoso como segundo gestor, o CBTM passou por inovações significativas, criando coreografias modernas e contemporâneas.
Desde 1983 tem o nome de Balé da Cidade de São Paulo, tornando-se um grupo de dança contemporânea que, atualmente, é dirigido pela bailarina e coreógrafa Iracity Cardoso. Em junho de 1968, foi realizado pela empresa têxtil francesa Rhodia, na Feira Nacional da Indústria têxtil (Fenit), em São Paulo, o evento "Momento 68”, com a participação de diferentes artistas.
Eram desfiles shows de grande porte que reuniam profissionais de teatro, dança, moda, música e artes visuais, tornando-se verdadeiros espetáculos de boa qualidade artística, na Fenit, entre 1960 e 1970. O “Momento 68” foi uma união do tropicalismo, do movimento hippie e da cultura pop que rendeu aos empresários da Rhodia o rótulo de “subversivos” pelo governo militar brasileiro (1964 - 1985).
Participantes do “Momento 68”: diretor teatral Ademar Guerra (1933 - 1993), diretor musical Rogério Duprat (1932 - 2006), escritor Millôr Fernandes (1923 - 2012), coreógrafos Ismael Guiser (1927 - 2008), os americanos Jo Jo Smith e Lennie Dale (1934 - 1994) e a francesa René Gumiel (1913 - 2006). As bailarinos Iracity Cardoso e Yoko Okada, entre outros; os atores Walmor Chagas (1930 - 2013) e Raul Cortez (1932 - 2006); os músicos Caetano Veloso, Eliana Pittman, Gal Costa, Gilberto Gil, Hermeto Paschoal, Lanny Gordin e o ilustrador e artista gráfico Alceu Penna (1915 - 1980), entre outros.
Em 13 de dezembro de 1968 – marcado como o “ano que não acabou” – foi lançado o Ato Institucional nº 5 (AI-5) pelo presidente Artur da Costa e Silva (1967 - 1969), considerado o maior golpe da ditadura militar (1964 – 1985) sobre o povo brasileiro.
O AI-5 deu poder ao governo militar autoritário, de forma arbitrária, de práticas de repressão e de censura sobre todos os setores da sociedade brasileira, suscitando cruéis mecanismos de tortura e de perseguição e tornando a situação do país insustentável por muitos anos.
Maria Duschenes mantinha-se sempre atualizada como educadora e pesquisadora do movimento humano, participando de diferentes cursos e eventos nacionais e internacionais.
Entre 1940 e 1980 frequentou o curso Art of Movement, no Laban Art of Movement Centre, na Inglaterra, que era dividido em módulos anuais orientados pela bailarina, professora e pesquisadora Lisa Ullmann (1907-1985).
Em janeiro de 1970, Duschenes realizou a monografia para a certificação (que concluiu em 1973) com o tema Art of Movement. Nela é detalhado o treinamento da habilidade e expressividade das mãos e do tronco, descritas as várias funções do centro do corpo nos gestos dos membros e tem a Teoria do Movimento e os 16 Temas do Movimento analisados.
Ainda em 1970, desenvolveu métodos terapêuticos baseados em estudos do movimento para grupos de formação de psicólogos de vários institutos de terapia de São Paulo, Brasil.
A aplicação dos métodos criados por Duschenes foram apresentados no 5º Congresso Internacional de Psicodrama e Sociodrama e 1º de Comunidade Terapêutica, de 16 a 22 de agosto de 1970, realizado no Museu de Arte de São Paulo (MASP).
Entre o anos de 1970 e 1973, fez o curso de observação do movimento, com Irmgard Bartenieff (1900-1981), no Dance Notation Bureau (DNB), em Nova York, Estados Unidos, tornando-se mais tarde, membro da mesma instituição.
Em 1970, o bailarino e coreógrafo mineiro Klauss Vianna (1928 - 1992) estreou dois trabalhos de expressão corporal de atores para o teatro, no Rio de Janeiro (RJ).
Em maio daquele ano, estreou a peça “Os convalescentes”, de José Vicente (1945 - 2007), com direção de Gilda Grillo. Vianna trabalhou com os atores Emilio Di Biasi, Lourival Pariz, Norma Bengell (1935 - 2013) e Renata Sorrah no Teatro Opinião.
E, em 29 de julho de 1970, estreou “Alice no país divino maravilhoso”, uma livre adaptação do livro de Lewis Carroll, “Alice no País das Maravilhas”, por Luiz Carlos Maciel (1938 – 2015), Marcos Flaksman, Paulo Afonso Grisolli (também diretor da peça), Sidney Miller (1945 – 1980) e Tite de Lemos (1942 – 1989).
Neste espetáculo, Vianna criou a dinâmica corporal com os atores Ary Fontoura, Marlene e Milton Gonçalves, no Teatro Casa Grande.
O ano de 1970 ficou marcado no Brasil como o auge da ditadura militar (1964 - 1985) com o General Emilio Garrastazu Médici (1969 – 1974), do slogan “Ame-o ou deixe-o” na mídia, claramente direcionado para que os brasileiros que apoiavam o regime militar continuassem no país e aqueles que eram contra o deixassem.
Ele ainda disparou propagandas de um Brasil em crescimento econômico e de sucesso por ter o melhor futebol do mundo. E embarcou na alegria e no orgulho dos brasileiros com a vitória da seleção brasileira de futebol, na Copa do Mundo de 1970, realizada no México, para encobrir a realidade dura durante os chamados “anos de chumbo”.
Nos anos de 1960, a bailarina e coreógrafa húngara radicada no Brasil Marika Gidali iniciou uma parceria de muitos anos com o diretor teatral Ademar Guerra (1933 - 1993), como coreógrafa em espetáculos como “Oh, que delícia de guerra” (1966), “Marat – Sade” (1967), “O burguês fidalgo” (1968), entre outros.
Em 1971, Gidali coreografou a segunda montagem brasileira do musical americano “Hair”, de James Rado e Gerome Ragni, com música composta por Galt Mac Dermot, no Teatro Aquarius, em São Paulo. Trabalhou com os atores Antonio Fagundes, Aracy Balabanian, Ariclê Perez (1943 - 2006), Armando Bogus (1930 - 1993), Ney Latorraca, Nuno Leal Maia, Ricardo Petraglia e Sonia Braga, entre outros.
A peça teve um grande impacto no Brasil pela reinvindicação dos artistas pela liberdade de expressão, naquele momento de ditadura militar e permaneceu em cartaz de 1969 a 1972, em São Paulo.
Também em 1971, Gidali estreou, com o bailarino e coreógrafo brasileiro Décio Otero, o programa “Convite à Dança”, na TV Cultura (canal 2), em São Paulo. Foi um dos poucos programas de dança veiculados pela televisão.
Foram vinte programas semanais, de 45 minutos cada, divididos em duas partes: didática e coreografia inédita.
A direção foi de Irineu Di Carli, a narração foi feita pelos atores Armando Bogus (1930 - 1993), Eva Wilma, Karin Rodrigues, Maria Izabel de Lisandra e Sérgio Viotti (1927 - 2009), a coreografia era de Clarice Abujamra, Ismael Guiser (1927 - 2008), Jerry Maretsky, Renée Gumiel (1913 – 2006) e Ruth Rachou. E, como colaboradores, Donato Chiarella, Geralda Araújo, Ivaldo Bertazzo, Marina Helou e Milton Carneiro (1923 - 1999).
Ainda em 1971, Marika Gidali e Décio Otero fundaram o Ballet Stagium de dança moderna com as coreografias “Dessincronias”, “Orfeu e Eurídice” e “Impressions”, todas de Otero.
Naquele mesmo ano, o ex-deputado federal Rubens Paiva (1929 - 1971), após ser preso, desapareceu dos quartéis durante a ditadura militar brasileira (1964 - 1985).
Maria Duschenes apresentou, em 1972, o “Espetáculo Cinético Mixed Media”, pela segunda vez no Museu de Arte de São Paulo (MASP), mas com novas propostas pra a cena e com mais intimidade com as artes plásticas.
As transformações do “Espetáculo Cinético Mixed Media” apontavam para as tendências da dança moderna e, sobretudo, às experimentações dos bailarinos e coreógrafos americanos Alwin Nikolais (1910-1993) e Merce Cunningham (1919-2009).
Dando continuidade às suas atividades fora das aulas e das criações artísticas, em 28 de outubro de 1972 Duschenes ministrou uma palestra com tema “Expressão Corporal” no curso de reciclagem para professores de Grau Médio (equivalente hoje ao Ensino Médio). A programação intitulada Expressão e Comunicação foi realizada pela Faculdade Ibero-americana de Letras e Ciências Humanas, em São Paulo.
Ficha Técnica “Espetáculo Cinético Mixed Media”:
Direção e Coreografia: Maria Duschenes | Figurinos: artista plástica, bailarina e dance computer Analívia Cordeiro | Cenário: Hugo Franco, inspirado na obra “Diapositivos” da artista plástica suíça, radicada no Brasil, Mira Schendel (1919-1988) e abstrações coloridas por Herbert Duschenes | Iluminação: Giancarlo
Abertura do Estúdio Ruth Rachou, pela bailarina e coreógrafa brasileira Ruth Rachou, em São Paulo.
Considerada uma das pioneiras da dança moderna no Brasil, foi aluna de Kitty Bodenheim, de Maria Olenewa (1896 - 1965), Martha Graham (1894 - 1991), José Limon (1908 - 1972) e Merce Cunninghan (1919 - 2009), entre outros. Desenvolveu e divulgou a técnica de Martha Graham no Brasil e foi responsável pelo ensino de dança moderna na Escola Municipal de Bailado (EMB), em São Paulo.
Participou do Ballet do IV Centenário, do Grupo de Dança do Museu de Arte de São Paulo (MASP), foi coreógrafa dos balés da TV Record e na TV Cultura e fundou o Grupo de Dança Ruth Rachou, entre outros importantes trabalhos.
Formou várias gerações de bailarinos nos 43 anos de atividades de seu próprio estúdio que, desde 2016 tem novas propostas do seu filho bailarino, professor e coreógrafo Raul Rachou que dirigiu a escola por 35 anos ao lado de Ruth.
Em 1972, o grupo “Dzi Croquettes” se formou, a partir da ideia do artista plástico Wagner Ribeiro (1936 - 1994) de montar um espetáculo musical. Reuniu treze jovens amigos, entre 18 e 30 anos, de classe média, que moravam juntos em Santa Tereza, no Rio de Janeiro.
O grupo unia dança, teatro, circo e artes plásticas com muita irreverência e humor, ironizando os valores políticos, sexuais e comportamentais da época com figurinos e maquiagem exagerados nos brilhos, caracterizações de vedetes, clowns e outros personagens.
Com as aulas de jazz e coreografias do bailarino americano Lennie Dale (1934 – 1994) e os ensaios de oito horas diárias, o grupo mantinha o profissionalismo no trabalho. Ribeiro era responsável por roteiro, texto e músicas do espetáculo.
Estrearam no cabaré Casanova, na Lapa, centro do Rio de Janeiro, com o espetáculo “Gente Computada Igual a Você”, depois se apresentaram na boate Monsieur Pujol, de Carlos Miele (1938 - 2015) e Ronaldo Bôscoli (1928 - 1994), em Ipanema, e também em São Paulo, no Teatro do Bexiga e no Teatro Maria Della Costa. O estrondoso sucesso chamou a atenção da censura e decidiram aceitar o convite para se apresentarem na Europa.
Fizeram parte do grupo: Lennie Dale, Wagner Ribeiro, Benedicto Lacerda, Bayard Tonelli, Rogério de Poly, Ciro Barcellos, Claudio Tovar, Paulo Bacellar, Claudio Gaya, Carlos Machado (Lotinha), Reginaldo Rodrigues, Roberto Rodrigues e Benedictus Lacerda.
Um grupo de mulheres que os seguia formou o “Dzi Croquettas” e algumas delas também seguiram profissionalmente como performers e cantoras (“As frenéticas”).
Ainda em 1972, o Ballet Stagium, de Marika Gidali e Decio Otero, estreou a coreografia “Diadorim” (personagem do romance “Grande sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa), no Teatro São Pedro, em São Paulo.
O grupo emocionou o público com sua movimentação expressiva e inaugurou, sob a ditadura (1964 - 1985), os espetáculos com temas sobre a realidade brasileira e latino-americana, como “Kuarup, ou a questão do índio” (1977), “Coisas do Brasil” (1979), “A mi América” (1980) e “Santa Maria de Iquique” (1982), entre outros.
Em 05 de julho de 1973, Maria Duschenes recebeu o diploma, reconhecido pelo Ministério de Educação e Ciências da Inglaterra, de conclusão do curso realizado no Art of Movement Studio (1945-1946), em Manchester, e no Laban Art of Movement Centre (1954), em Londres. Duschenes frequentou o curso de Arte do Movimento entre as décadas de 1940 e 1970, em módulos anuais, sob a orientação da bailarina, professora e coreógrafa alemã Lisa Ullmann (1907-1985).
Ainda neste ano, Maria Duschenes, apresentou “Espetáculo Cinético 2” com o Grupo de Dança Contemporânea e o Grupo de Dança Coral de Maria Duschenes, como parte da programação da 2ª Bienal de Artes Plásticas de Santos, no Museu de Arte de São Paulo, (MASP), em São Paulo.
A arrojada criação artística de D. Maria revelava os caminhos dos movimentos pelos jogos de luz e sombra e a relação com os objetos cinéticos e a música. Traços do seu trabalho vieram de sua inspiração ao conhecer o trabalho do bailarino e coreógrafo americano Alwin Nikolais (1912-1993) – Duschenes identificou-se com o que viu e fez um curso com o chamado “Mago da luz” para, segundo ela, ter mais ideias.
Neste mesmo ano, 1973, D. Maria ministrou cursos de Arte do Movimento, de curta duração, para professores do departamento de Educação e Recreio, da Secretaria de Educação e Cultura, da Prefeitura Municipal de São Paulo.
Ficha Técnica “Espetáculo Cinético 2”:
Direção e Coreografia: Maria Duschenes | Slides: Herbert Duschenes | Fotos: Hugo Franco, da obra de Mira Schendel (1919-1988) | Cenografia: Acácio Ribeiro Vallim Júnior | Figurinos: artista plástica, bailarina e dance computer Analívia Cordeiro
Maria Duschenes foi professora de Expressão Corporal nos anos de 1970 no Instituto Musical de São Paulo e participou, em 1974, da estruturação do currículo do curso de licenciatura em Educação Artística neste mesmo instituto.
Além de Duschenes, deram aula no Instituto Musical de São Paulo o ator e bailarino Acácio Ribeiro Vallim Jr. (1948- ) e a bailarina e coreógrafa Regina Faria, ambos participantes do Grupo de Improvisação de D. Maria.
Neste mesmo ano, Duschenes elaborou o curso de pós-graduação em Expressão Corporal e Análise do Movimento para a Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Ainda neste ano, o Grupo de Dança Criativa e Danças Corais de Maria Duschenes apresentou-se no Teatro Municipal de Ribeirão Preto (SP).
Em 4 de março de 1975, foi oficialmente inaugurado o Teatro de Dança na Sala Galpão, no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, por determinação do Secretário de Estado da Cultura, Esportes e Turismo, Pedro de Magalhães Padilha, por iniciativa da bailarina e coreógrafa Marilena Ansaldi.
O espetáculo de estreia, foi com o Ballet Stagium que apresentou duas coreografias de Décio Otero, “Entrelinhas” (1972) e “D. Maria I, a rainha louca” (1974) que trazia a proposta de utilizar a dança como agente de transformação. O elenco do Stagium era formado por: Beth Oliveira, Décio Otero, Geralda bezerra, Júlia Ziviani, Marika Gidali, Miguel Trezza, Milton Carneiro, Mônica Mion, Nádia Luz, Ricardo Gomes, Ricardo Ordoñez e Sebastião Freitas.
Em dezembro de 1974, foi realizada uma pré - inauguração com o espetáculo de Célia Gouvêa e Maurice Vaneau (1926 – 2007), “Caminhada”, unindo dança e teatro.
O Teatro Galpão (1975 – 1981) foi um marco fundamental para a história da dança no Brasil, pela proposta de ter sido, um espaço para a formação de bailarinos com cursos da “casa” gratuitos e outros ministrados por convidados; para a troca de experiências entre grupos brasileiros e grupos internacionais; pela inovação estética; pela identidade de criação artística; pela liberdade de criação em tempos de censura extrema e de produção de dança integrada às outras artes.
Em 25 de outubro do mesmo ano, de 1975, o jornalista e professor brasileiro Vladimir Herzog (1937 – 1975) morreu sob tortura, nas dependências do Destacamento de Operações Internas – Comando Operacional de Informações do II Exército (DOI – CODI), em São Paulo.
A morte de Herzog foi divulgada pelo DOI-CODI em fotos pela mídia e pela imprensa como suicídio, provocou a primeira reação popular contra as prisões arbitrárias, a tortura e o desrespeito aos direitos humanos, desencadeados pelo governo militar autoritário, instaurado em 1964 até 1981.
Os religiosos D. Paulo Evaristo Arns, o reverendo James Wrigth e o rabino Henry Sobbel organizaram um ato ecumênico para Herzog, que levou 5.000 pessoas à Catedral da Sé.
Apesar da sentença favorável dada em 1978, à família de Herzog, pela ação judicial, solicitando que a União fosse responsabilizada pela morte do jornalista, casos similares continuaram a ocorrer, durante o mandato do presidente general Ernesto Geisel (1907 – 1996) que permaneceu no poder de 1974 a 1979.
Em março de 1976, Maria Duschenes foi professora de Expressão Corporal no curso de Pós-Graduação de Teatro da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA- USP).
O conteúdo principal do curso foi “Análise e síntese, teoria e prática do Movimento Humano” e as aulas contavam projeções de filmes e demonstrações práticas.
Em 1º de abril de 1976, o Grupo Corpo estreou com a coreografia “Maria Maria”, do bailarino e coreógrafo argentino Oscar Araiz, no Teatro do Palácio das Artes, em Belo Horizonte (MG).
Foi o início da trajetória de uma das mais importantes companhias de dança do Brasil, criada pela família Pederneiras, de Belo Horizonte.
Com música do mesmo nome, especialmente composta pelo mineiro Milton Nascimento, o Corpo levou ao palco a mulher brasileira de raça, com a qual o público se identificou naquele momento histórico muito duro do país, devido à ditadura militar (1964 - 1985).
Além da coreografia, Oscar Araiz assinou a direção do espetáculo, com roteiro do escritor mineiro Fernando Brant (1946 - 2015) e figurino da argentina Renata Schussheim.
Participaram de “Maria Maria” os bailarinos: Carmen Purri, Déa Márcia de Souza, Denise Stutz, Fernando de Castro, Hugo Travers, Izabel Costa, José Luis Pederneiras, Marisa Pederneiras, Miriam Pederneiras, Pedro Pederneiras, Rodrigo Pederneiras, Simone Coelho e, como diretor da companhia, Paulo Pederneiras.
Em 1976, morreu o operário Manoel Fiel Filho (1927 - 1976) sob tortura, nas dependências do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI). A morte foi anunciada como suicídio pelo 2º Exército, em São Paulo.
Desde o início dos anos de 1970, Maria Duschenes era professora de Expressão Corporal, no Instituto Musical de São Paulo. Em 1974, além de docente, participou também da estruturação do currículo dos cursos de licenciatura em Educação Artística.
Em 1977, ministrou o Curso de Especialização e Análise do Gesto e foi responsável pelo Curso de Formas de Expressão e Comunicação Artística na mesma instituição.
Em 1977, foi criada a Cisne Negro Cia. de Dança pela diretora artística Hulda Bittencourt, na rua Macunis, Alto de Pinheiros, em São Paulo. A localização, próxima à Universidade de São Paulo (USP), facilitou a formação da companhia com o número de rapazes, alunos do curso de Educação Física da USP, equilibrado com o das moças, alunas do Estúdio de Ballet Cisne Negro.
A Cisne Negro estreou com as coreografias “Pulsacion”, da bailarina, professora e coreógrafa Penha de Souza, “Cenas Brasileiras” e “Ragtime”, ambas de Hulda Bittencourt.
É uma das mais importantes companhias de dança contemporânea brasileira, que também valoriza a importância da montagem anual do balé romântico de Natal “O quebra-nozes”, de Pyotr Ilyich Tchaikovsky (1840 - 1893) e coreografia original de Marius Petipa (1818 - 1910).
Em julho de 1977, a companhia americana de dança contemporânea Nikolais Dance Theater se apresentou no Festival de Arte da Bahia, realizado pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), pela Fundação Nacional de Arte (Funarte) e pelo Ministério de Educação e Cultura (MEC), em Salvador (BA).
Dirigida pelo bailarino e coreógrafo americano Alwin Nikolais (1910 - 1993), o chamado “Mago da Luz” –, integrava dança, música, imagem, luz e design, sem haver um tema ou um sentido, mas sim o resultado com as novas formas criadas.
Foram oferecidos oficinas, cursos, espetáculos nacionais e internacionais, o Concurso Nacional de Dança Contemporânea, realizados em espaços como Teatro Castro Alves, Mosteiro de São Bento, Escola de Dança da Universidade Federal da Bahia (UFBA), entre outros locais.
Em 1978, Maria Duschenes organizou a vinda, da Inglaterra ao Brasil, da sua mestra Lisa Ullmann (1907-1985), colaboradora de Rudolf Laban (1859-1958) e uma das pioneiras da dança moderna.
Em marcante passagem pelo Teatro de Dança Galpão (1974-1981), durante o mês de junho, Ullmann deu palestras, cursos e aulas abertas sobre Dança Coral e Arte do Movimento, contemplando os diferentes interesses do público.
Também em 1978, a psicóloga Regina Machado, com a supervisão de D.Maria, realizou o piloto do projeto Dança/Arte do Movimento nas Bibliotecas Infanto-Juvenis (BIJs) de São Paulo. Machado era funcionária da Prefeitura Municipal de São Paulo e elaborou o projeto com crianças cegas que frequentavam os Postos de Saúde. Mais tarde, D. Maria propôs à Secretaria Municipal de Cultura (SMC), a introdução da dança educativa nas BIJs e outros espaços.
Ainda em 1978, Duschenes estreou o espetáculo “Magitex”, na I Bienal Latino-Americana de São Paulo, no Parque do Ibirapuera, de 03 de novembro a 17 de dezembro. Nesta criação cênica, Duschenes voltou-se à narrativa e à mitologia, tendo se baseado no conto grego sobre a tecelã Aracne, buscando imprimir movimentos no espaço com a sonorização feita pelo grupo e outros elementos, simbolizando máquinas e engrenagens de tecelagem.
Neste mesmo ano, à convite da Comissão de Dança da Secretaria de Estado da Cultura, D. Maria apresentou em 14 de novembro “São Paulo: Madrugada”, no Paço das Artes, em São Paulo. Era um espetáculo de 15 minutos de duração e a coreografia explorava todas as possibilidades do triângulo dentro do espaço redondo do Paço das Artes, com o público acomodado ao redor ou num balcão superior. No mesmo ano, “São Paulo: Madrugada” foi apresentado no Museu da Imagem e do Som (MIS), também em São Paulo.
Ficha Técnica ”Magitex”:
Coreografia e direção: Maria Duschenes | Grupo de Dança Contemporânea: Ana Cristina C. de Araújo Petersen, Augusto C. F. Pereira da Rocha, Cláudia Deheinzelin, Dulce C. R. Maltez, Lenira Peral Rengel, Lilian Van Enck, Marília Souza Aguiar, Miriam Dascal, Regina F. de Faria, Tereza Cristina R. Cruz, Denilto Gomes, J.C.Violla e Juliana Carneiro da Cunha | Figurinos: Carmem D'Ausilio | Música criada para o espetáculo: Dinho Nascimento (Grupo Arembepe) | Iluminação: Rodrigo Cid | Cenário: Ronaldo Duschenes
Ficha Técnica “São Paulo: Madrugada”:
Coreografia: Maria Duschenes | Trilha Sonora: o tic tac do despertador interrompido pela gravação ampliada da respiração humana | Bailarinos: Denilto Gomes, J. C. Violla e Juliana Carneiro da Cunha.
Em 1978, nasce o Grupo Andança de dança contemporânea, formado pelas bailarinas e coreógrafas Lia Rodrigues, Sônia Galvão (hoje especialista em dança indiana), Malu Gonçalves e Silvia Bittencourt, em São Paulo (SP).
No mesmo ano, O Teatro do Movimento (RJ), coordenado pela bailarina e coreógrafa Angel Vianna, estreia a premiada coreografia “Domínio Público”, de Angel e Klauss Vianna (1928 – 1992) e Oscar Araiz, em São Paulo (SP).
Estreia a coreografia de Célia Gouvêa, “Isadora, Ventos e Vagas”, com a direção do belga Maurice Vaneau (1926 - 2007) e participação das bailarinas, Julia Ziviani, Juliana Carneiro da Cunha, Ruth Rachou e Vivien Buckup, no Teatro Cultura Artística, em São Paulo (SP).
Em 31 de dezembro de 1978, após dez anos de ações arbitrárias de censura, perseguições, exílios e torturas do governo autoritário militar (1964 – 1985), termina o Ato Institucional nº 5 (AI–5).
Em 1979, Maria Duschenes homenageou o húngaro Rudolf Laban (1879-1958) com a “Dança Coral Comemorativa do Centenário de Rudolf von Laban”, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo. Na ocasião, Duschenes coordenou 80 crianças que frequentavam bibliotecas municipais de diferentes regiões da cidade de São Paulo, contando com a participação das bailarinas Solange Camargo, Fernanda Abujamra, Cybele Cavalcanti e Regina Machado.
Dança coral é uma dança coletiva que qualquer pessoa pode dançar, seja por lazer, pela natureza educativa ou profissional, na qual se busca a harmonia das formas de movimento de cada um. Ela foi introduzida por Laban nos anos de 1930 e 1940 na Alemanha, e por Duschenes, nos anos de 1940 no Brasil. Duschenes intensificou seu trabalho com essa arte em 1978, quando Lisa Ullmann (1907-1985) realizou cursos teórico-práticos sobre o tema no Teatro de Dança Galpão, em São Paulo.
Em 8 de fevereiro de 1979, Duschenes foi convidada pelo Laban Centre for Movement and Dance (1973), de Londres, para apresentar seu trabalho baseado nas ideias de Laban no International Laban Centenary Symposium. Em 12 de outubro do mesmo ano, tornou-se membro da Laban Art for Movement Guild (1946).
Ainda em 1979, Duschenes iniciou a desenvolver a dança coral no projeto de dança educativa, junto ao Departamento de Bibliotecas Infanto-juvenis (BIJs), da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) de São Paulo. Supervisionou o trabalho realizado por um ano das professoras Renata Macedo e Daraina Pregnolato (Tuca), que mais tarde tornou-se um Programa da Prefeitura Municipal de São Paulo (PMSP) por dez anos.
Após ampla mobilização social e ainda durante o regime militar (1964 - 1985), foi promulgada a Lei nº 6.683, a “Lei da Anistia” no Brasil, pelo presidente João Batista Figueiredo (1979 - 1985), em 28 de agosto de 1979.
Ela beneficiou mais de 100 presos políticos e permitiu o retorno do exílio de 150 pessoas, consideradas criminosas políticas pelo regime militar e punidas entre os anos de 1961 e 1979.
À convite do Laban Guild for Movement and Dance (1946), da qual Maria Duschenes era filiada, publicou em 1980, o artigo Forty Years in Brazil na revista, Movement, Dance and Drama Magazine (1946), em Londres.
A escola que até hoje funciona para promover o legado de Rudolf Laban (1879 – 1958) através da dança, drama, terapia e educação, solicitou à Duschenes que relatasse sua experiência de 40 anos com dança educativa no Brasil, inspirada no trabalho de Laban.
Neste mesmo ano, o Grupo de Improvisação de Maria Duschenes se apresentou no Teatro da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP).
Em 10 de fevereiro de 1980, o Partido dos Trabalhadores (PT) foi fundado, no Colégio Sion, em São Paulo (SP).
Em 1980, o bailarino e coreógrafo mineiro Klauss Vianna (1928 - 1990) assumiu a direção da Escola Municipal de Bailado (EMB), a convite do Secretário Municipal de Cultura, Mário Chamie (1979 – 1983).
Durante quase dois anos de trabalho, Vianna introduziu atividades mais lúdicas nas aulas de balé clássico para as crianças do 1º ano, de 8 anos de idade, incentivou os alunos adolescentes a criarem coreografias para as apresentações e abriu o curso noturno para rapazes, entre outras inovações.
Em julho de 1981, estreou a coreografiada ópera rock “Clara Crocodilo”, de Lala Dehenzelin com música de Arrigo Barnabé e a participação da atriz Myriam Muniz (1931 - 2004) e mais de vinte bailarinos e atores em cena, no Teatro Maria Della Costa e no Teatro Galpão, em São Paulo. Em 1982, Vianna saiu da Escola Municipal de Bailado (EMB) para assumir o Balé da Cidade do Teatro Municipal de São Paulo, substituindo o bailarino e coreógrafo Luis Arrieta.
Criou o Grupo Experimental com 21 artistas que tivessem experiência em laboratório de pesquisas e em criação coreográfica. A bailarina e coreógrafa Lia Robatto foi sua assistente e participou do processo de criação. Em poucas semanas, montou o espetáculo “Bolero”, de Ravel.
O espetáculo “São Paulo Madrugada” de Maria Duschenes foi apresentado neste ano, no Mercado de Santo Amaro, ex- Mercado Municipal de Santo Amaro, fundado em 1897, em São Paulo.
Era um espetáculo de aproximadamente quinze minutos e com uma trilha sonora composta do tic tac de relógios com a interrupção da respiração humana com o som ampliado. Duchenes utilizou o espaço redondo do “mercado velho” para o público se acomodar ao redor da cena e os bailarinos traçarem figuras geométricas dentro do círculo.
Ficha Técnica “São Paulo Madrugada”:
Coreografia e Iluminação: Maria Duschenes | Trilha Sonora: o tic tac do despertador interrompido pela gravação ampliada da respiração humana | Bailarinos: Denilto Gomes, J. C. Violla e Juliana Carneiro da Cunha.
O projeto piloto do programa “Dança nas Bibliotecas”, de Maria Duschenes, teve início em 1983, nas bibliotecas municipais de São Paulo, com crianças de 4 a 11 anos de idade.
A proposta do projeto apresentado por Duschenes ao Departamento de Bibliotecas Infanto-Juvenis (BIJs) da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) nasceu de duas atividades realizadas anteriormente, sob sua supervisão. A primeira delas, em 1978, foi a experiência da psicóloga Regina Machado com crianças cegas, e a segunda, em 1979, o evento final que culminou na dança coral comemorativa do Centenário de Rudolf Laban (1879-1958) – com 80 crianças frequentadoras de diferentes bibliotecas, numa grande confraternização pela dança.
“Dança nas Bibliotecas”, projeto realizado por um ano, foi considerado o marco da introdução da dança educativa nas bibliotecas públicas de São Paulo. Sob a supervisão de Duschenes, trabalharam como voluntárias as professoras e bailarinas: Cybele Cavalcanti, Daraína Pregnolatto (Tuca), Fernanda Abujamra, Maria Cecília Pereira Lacava (Cilô), Regina Machado, Renata Macedo Soares, Sandra Rodrigues, Solange Arruda, Sônia Kliass, entre outras.
O Festival de Dança de Joinville foi criado, em 1983, pelo bailarino e professor Carlos Tafur e pela artista plástica Albertina Tuma. É realizado anualmente, por duas semanas, no mês de julho, na cidade de Joinville (SC), com um grande número de atividades competitivas e outras, como apresentações, workshops, Feira da Sapatilha, entre outros. É considerado um dos maiores eventos do mundo pelo número de 4.500 bailarinos participantes.
Início do "Movimento Diretas Já" (1983 - 1984), um dos maiores movimentos da população brasileira pela campanha das eleições diretas para a sucessão do presidente João Batista Figueiredo (1979 - 1985). O movimento ganhou proporções cada vez mais amplas, com comícios por todo o país.
Em 1984, o “Projeto Dança/Arte do Movimento” de Maria Duschenes tornou-se oficialmente uma das atividades do Departamento de Bibliotecas Infanto-juvenis (BIJs) da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) de São Paulo. Assim como no projeto piloto (1983), a proposta era voltada para crianças da pré-escola e do 1o. grau (correspondentes aos atuais segmentos Educação Infantil e Ensino Fundamental I, respectivamente).
Sob a coordenação e supervisão de Duschenes, o projeto foi realizado pelas professoras Regina Machado, Renata Neves, Daraína Pregnolatto (Tuca), Maria Cecília Pereira Lacava (Cilô), Solange Arruda e Solange Garbaz. Foi baseado nas pesquisas de Duschenes sobre o repertório de movimento dos brasileiros, a partir dos conceitos de Rudolf Laban (1879-1958).
As aulas eram propostas a partir de temas dos livros escolhidos pelas crianças e de temas de movimento adequados às diferentes faixas etárias. De forma lúdica, eram pautadas na consciência corporal habilidades motoras, domínio da qualidade de movimento entre outros princípios.
Em abril de 1984, o Secretário da Cultura Gianfrancesco Guarnieri (1984-1986) ampliou o número de bibliotecas, de forma pioneira, a oferecer o ensino da dança na periferia da cidade e nas escolas. E ainda num âmbito maior, apoiou o Projeto de Lei no. 242/1984, do senador João Lobo (PFL – PI), que previa a obrigatoriedade do ensino da dança educativa nas escolas de 1o e 2o graus no Brasil.
A adaptação do “Projeto Dança/Arte do Movimento” para as escolas e a fundamentação teórica elaboradas por Duschenes e equipe deram base para a defesa da “Lei Lobo” no trâmite na Câmara dos Deputados. A dança educativa de D. Maria permaneceu nas bibliotecas até 1994. Nesses dez anos, contemplou um grande universo de crianças e adultos (pais e funcionários públicos) que frequentavam as bibliotecas municipais espalhadas pela cidade.
O Projeto de Lei nº 242/1984, a "Lei Lobo", foi promovido pelo senador João Lobo (PFL-PI), com a intenção de tornar obrigatório o ensino de dança educativa nas escolas de 1º e 2º graus no Brasil. Foi redigido com a colaboração da bailarina, professora e coreógrafa Maria Duschenes (1922 - 2014) e baseado em sua experiência nas bibliotecas infantojuvenis da prefeitura de São Paulo naquele mesmo ano.
Mas o projeto não foi aprovado devido à Constituição de 1988, que aprovou a garantia de acesso ao "ensino da arte" para alunos de 1º e 2º graus, sem definir as áreas artísticas.
Em 5 de janeiro de 1985, a bailarina, coreógrafa e professora alemã Lisa Ullmann (1907 - 1985) faleceu, aos 78 anos, na cidade de Chertsey, no Reino Unido. Foi parceira de Rudolf Laban (1879-1958) nas pesquisas sobre o movimento humano e na criação do Laban Art of Movement Centre (1954), na Inglaterra, onde Maria Duschenes ia uma vez ao ano frequentar o curso de Ullmann.
Na ocasião do falecimento de sua mestra, Duschenes escreveu uma carta endereçada à “mãe da Dança Moderna europeia”, na qual comenta sobre a importância da trajetória de Ullmann para a história da dança. Lamenta a perda da sua mestra mas celebra os registros que ela deixou sobre o seu trabalho em filmes, cadernos, publicações e outros. Comenta, ainda, que ficaram na memória as descobertas inéditas nas Artes Cênicas, na Arte do Movimento Humano, nas Ciências Sociais, na Educação e na Antropologia.
Depois de duas décadas dos chamados “anos de chumbo” da ditadura militar (1964 - 1985), chegou ao fim o governo autoritário militar com a abertura política do país e as manifestações e mobilizações em vários setores da sociedade.
Em 1985, abriu foi criado o segundo curso de graduação em Dança no Brasil. O projeto foi elaborado pela bailarina e professora Marilia Antonieta Oswald de Andrade com um grupo de professores da área de Dança para o Instituto de Artes, da Universidade de Campinas (UNICAMP), no estado de São Paulo.
O “Projeto Dança/Arte do Movimento” (1984), realizado por Maria Duschenes e sua equipe através do Departamento de Bibliotecas Infanto-juvenis (BIJs) da Secretaria Municipal de Cultura (SMC) de São Paulo, teve importante repercussão junto ao público atendido e à comunidade.
Até 1986, sob a coordenação e supervisão de Duschenes, a equipe atendeu aproximadamente 250 crianças, de 4 a 12 anos, em bibliotecas municipais de bairros diferentes, numa ação integrada com as áreas da Saúde, Esporte e Educação.
Em relatórios ilustrados e detalhados sobre o processo de trabalho, dirigidos à Secretaria Municipal de Cultura (SMC), Duschenes e equipe apresentaram os resultados significativos para o desenvolvimento das crianças, tanto individualmente como coletivamente. Observaram que as crianças passaram a ser mais criativas, expressivas e com maior destreza física e intelectual. E na relação com o outro, a troca de experiências com colegas de diferentes classes sociais, a integração entre crianças com deficiências auditivas e distúrbios emocionais e as crianças ouvintes, entre outros.
O reconhecimento da importância do “Projeto Dança/Arte do Movimento” pelos educadores, pais, funcionários públicos e sobretudo o Secretário da Cultura, Gianfrancesco Guarnieri (1934 - 2006), que Duschenes e equipe receberam vários convites para a apresentação do projeto em congressos, palestras e entrevistas para a imprensa, rádio e televisão.
A dança educativa de Duschenes permaneceu nas bibliotecas até 1994. Em dez anos, contemplou um grande universo de crianças e adultos (pais e funcionários públicos) que frequentavam as bibliotecas municipais espalhadas pela cidade.
Fizeram parte da equipe coordenada por Duschenes, a psicóloga voluntária Regina Machado, a artista plástica Inês Amorozo, o arquiteto Ronaldo Duschenes, o músico Tião Carvalho, as professoras voluntárias Cristina Budjoso e Marilia Albuquerque de Araújo, a especialista em literatura Silvia Oberg e as professoras Maria Cecília Pereira Lacava (Cilô), Marta Sandler, Renata Macedo Soares, Solange Arruda, Solange Garbaz e Daraína Pregnolatto (Tuca).
O Centro Laban de Dança e Arte do Movimento do Brasil foi fundado em 1987, em São Paulo, por Maria Duschenes e um grupo de alunas. Reuniu especialistas do movimento vindos de áreas diferentes: educação, dança, teatro, terapia e saúde.
O objetivo do “Centro Laban” foi difundir e disseminar o método e as ideias de Rudolf Laban (1879-1958), através da formação de profissionais, da criação de espetáculos e danças corais, da promoção de debates, da introdução da Arte do Movimento nas escolas, entre outras ações no Brasil e de intercâmbios internacionais.
A bailarina e aluna de D. Maria, Solange Arruda assumiu a presidência do Centro em 1998. Com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Departamento de Formação Cultural, desenvolveu um importante trabalho sobre Dança Inclusiva.
Além das atividades de Arte do Movimento, pesquisaram sobre as danças, as músicas e as culturas de origem africana e suas influências na cultura brasileira, com registros de imagens sobre o processo de trabalho, que resultou no espetáculo “A Linguagem dos Pássaros”. Fizeram apresentações em diferentes locais, como no teatro da Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP) e no Parque da Água Branca.
O grupo permaneceu por dez anos trabalhando com diferentes propostas baseadas no Método e na Teoria de Laban.
Em 1987, o Carlton Dance Festival foi criado pela Dueto Produções e Publicidade para a empresa Souza Cruz. Por dez anos, o Carlton Dance foi realizado em teatros de São Paulo (SP). Embora sua programação contasse com um número muito maior de companhias estrangeiras do que de brasileiras, revelou figuras importantes da dança brasileira como o pernambucano Antonio Nóbrega, que se estabeleceu em São Paulo e inaugurou o Teatro Brincante em 1993.
Vieram ao Carlton, as companhias Pina Bausch, Martha Graham, Mark Morris, Bill T. Jones, Batsheva, Momix, La La La Human Steps, entre outras.
Nascida em 1988, na cidade de Goiânia (GO), a Quasar Cia. de Dança foi fundada pelos ex-bailarinos goianos do Grupo Energia, Vera Bicalho e Henrique Rodovalho.
O grupo estreou em sua cidade natal, com a coreografia “Asas“ de Henrique Rodovalho, mostrando seu humor e técnica impecáveis sempre com o foco no ser humano.
Todas as coreografias apresentadas até 2014, são da autoria de Rodovalho e em especial, “Versus” (1994), segundo o grupo, foi a que abriu o caminho para o reconhecimento do trabalho da companhia e reiterado com “ Registro ” (1997), premiada com 5 estatuetas do Prêmio Mambembe, concedido pela Fundação Nacional de Arte – Ministério da Cultura.
E ainda, “Coreografia para Ouvir”(1999) que levou ao palco, a cultura popular, afirmou a trajetória internacional do grupo.
A companhia tem desenvolvido durante todos esses anos, projetos como Espaço Quasar, Núcleo de Pesquisa do Espaço Quasar, Quasar Jovem e Quasar de Dança Contemporânea.
Atualmente, a bailarina Bicalho é diretora geral e o coreógrafo Rodovalho é diretor-artístico e coreógrafo residente.
Em 1989, Maria Duschenes apresentou a criação coreográfica “O Navio da Noite” no evento em comemoração aos 110 anos de Rudolf Laban (1879-1958), no Centro Cultural São Paulo, em São Paulo.
O objetivo do evento organizado por duas bailarinas formadas por Duschenes, Maria Mommensohn e Regina Machado, foi disseminar a teoria de Laban e o trabalho de Duschenes, proporcionando a troca de experiências e de pesquisas sobre o movimento humano. Foi um grande encontro dos alunos de D. Maria, assim chamada por eles, que teve duração de 3 dias, com debates, oficinas, performances e a dança coral “O Navio da Noite.”
O espetáculo, dirigido por D. Maria, tratava sobre um barco que levava os desejos perdidos durante o dia. Teve a participação de dezenas de crianças e professores do Projeto Dança/Arte do Movimento realizado nas bibliotecas municipais – sob a coordenação de D. Maria e de crianças e profissionais dos cursos de música das bibliotecas. Este evento deu início aos “Encontros Laban”, realizados em 1992, 1994 e 1996, reunindo cada vez mais profissionais, alunos e pesquisadores interessados no método Laban e no trabalho inovador de D. Maria no Brasil.
Ainda em 1989, D. Maria organizou um curso de Especialização sobre a Teoria de Laban, com duração de 1 ano, na Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).
Ficha Técnica de “O Navio da Noite”:
Direção e coordenação: Maria Duschenes | Concepção: Renata Macedo e Daraína Pregnollato (Tuca) | Roteiro: Daraína Pregnollato (Tuca) | Narração: Tião Carvalho e Regina Machado | Música: Sonia da Silva e alunos, Tião Carvalho e Jean-Pierre Kaletrianos | Coral: Adilson | Luz: Renato | Professoras: Marta Sandler, Renata Macedo e Daraína Pregnollatto (Tuca) | Apoio: Cris Costa, Vinciane e Maria Mommensohn | Crianças: Biblioteca Monteiro Lobato/ Biblioteca Clarice Lispector/ Coral Monteiro Lobato/ Estúdio de dança/ Grupo Lisboa/ Morro do Querosene/ Oficina de Música.
Em 1º de janeiro de 1989, a paraibana Luiza de Souza Erundina, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), assumiu o cargo de prefeita da cidade de São Paulo (SP).
Fato inédito na história da Prefeitura do Município de São Paulo, por ter sido a primeira prefeita mulher, nordestina e de esquerda, exerceu o mandato de 1989 a 1992.
Também em 1989, o ator, arte-educador e discípulo da bailarina Maria Duschenes (1922 – 2014), Acácio Ribeiro Vallim Junior, assumiu a direção da Escola Municipal de Bailado (EMB), no período de 1989 a 1992. Atualizou o regimento interno da escola com novas disciplinas como a "Dança Criativa”, baseada na Arte do Movimento de Rudolf Laban com o apoio de uma equipe de especialistas como Maria Mommensohn, Lenira Rengel e Maria Cecília Lacava (Cilô).
Em 1990, Maria Duschenes apresentou no palco do Theatro Municipal de São Paulo a dança coral “Origens I”, com 150 pessoas.
Com a ampliação do projeto “Dança/Arte do Movimento" para crianças e professores que frequentavam as bibliotecas municipais, pela Secretaria Municipal de Cultura, D. Maria e equipe passaram a atender também as crianças e funcionários da Secretaria Municipal da Saúde, Secretaria Municipal de Esportes e Secretaria Municipal do Bem Estar Social.
Entre setembro e dezembro de 1990, realizaram oficinas de Dança/Arte do Movimento para os funcionários dos Centros de Convivência, danças corais e curso de formação básica de vivência com as crianças das várias bibliotecas da cidade.
A apresentação de “Origens I” que incluía as crianças e os adultos envolvidos no projeto, foi de grande impacto aos participantes, com a integração dos grupos de diferentes regiões da cidade e o público, colocando em prática a ideia de que a dança é para todos, como dizia D. Maria.
Ficha Técnica “Origens I”:
Coordenação: Maria Duschenes | Concepção: Maria Mommensohn, Regina Machado, Renata Macedo e Daraína Pregnollato (Tuca) | Música e Direção Musical: Adilson Rodrigues, Sônia da Silva e Tilike Coelho| Participação-músicos: Adilson Rodrigues (plano e voz), Sônia da Silva (percussão, voz, flauta e teclado) João Geraldo Alves (clarinete e saxofone), Monica Parmigiani (violoncello)| Coro: Rosquilha da Parafuseta | Regência: Adilson Rodrigues e Alunos da “Oficina de Música” | Orientação: Sônia da Silva | Luz: Silseu Alionço Dança-Monitores: Aloisio Madureira Vaz, Ana Cristina D´Andrea Galmarino, Ana Maria Rodriguez (Ana Terra), Annamaria Noêmia Lopes Xavier (Uxa Xavier), Celso Donziete Fortunato, Claudio Crespo, Elis Sugimoto, Elizabeth Menezes da Silva, Helena Stilene de Biase, Lucilene Moreira, Maria Denise S. Paiva, Marta Teresa Labriola Sandler, Mônica Rêgo Maciel, Solange Barbosa de Arruda Camargo e Sônia Silva | Participantes: Alunos das oficinas de dança e do curso de formação realizado pelo projeto Laban através da Secretaria Municipal de Cultura / alunos do "Núcleo Lisboa de Dança/Arte do Movimento" com orientação de Renata Macedo.
No dia seguinte à sua posse, o presidente Fernando Collor de Mello lançou o Plano Collor I, plano econômico que mudou a moeda, de Cruzado Novo (NCz$) para Cruzeiro (CR$) e reteve, por 24 meses, depósitos feitos em contas correntes ou em poupanças, com o objetivo, segundo ele, de diminuir a inflação do ano anterior.
Em 25 de abril de 1991, Maria Duschenes solicitou, por carta endereçada à Secretária Municipal de Cultura Marilena de Souza Chaui (1989-1992), a contratação da professora Maria Renata Macedo de Soares Neves para a continuidade do Projeto Dança/Arte do Movimento (1984) nas bibliotecas municipais, nos centros de convivência e escolas de São Paulo.
O projeto resultou no ensino da dança educativa para crianças e trabalhadores das secretarias municipais de Cultura, Bem Estar Social, Esportes, Educação e Saúde, permanecendo em atividade até 1994; sendo que, ao final de 1991, Duschenes foi homenageada com a dança coral “Origens II”, apresentada na 21a. Bienal Internacional de São Paulo, realizada entre 21/9/91 e 10/12/91, no Parque do Ibirapuera.
“Origens II” foi organizado por Maria Mommensohn, Daraína Pregnolatto (Tuca), Renata Macedo e Solange Arruda. O espetáculo era constituído de duas partes, sendo uma com 100 crianças e a outra com adultos profissionais da dança, com seis apresentações no total. Nas noites de lua cheia (em 22, 23 e 24 de novembro), às 18h40, todos os bailarinos se uniram para dançar ao ar livre, dialogando tanto com a instalação Slice of Earth, de Denise Milan, quanto com a arquitetura de Oscar Niemeyer (1907-2012).
Esta foi a última apresentação que D. Maria participou, e aos poucos foi diminuindo o número de alunos e o ritmo de trabalho.
Ficha Técnica “Origens II”:
Supervisão: Maria Duschenes | Concepção e Direção geral: Maria Mommensohn, Renata Macedo, Solange Arruda e Daraína Pregnollato (Tuca) | Direção Coreográfica: Lucia Helena Navarro | Concepção e Coreografia/ Grupo Infantil: Lenira Rengel, M. Cecília Lacava, Maria Mommensohn e Renata Macedo | Direção Musical: Adilson Rodrigues, Sônia da Silva e Tilike Coelho| Equipe de Música: Daniel Allan, Dinho Gonçalves e Grupo Percussão, João Geraldo Alves, Monica Permigiane, Sônia da Silva, Tilike Coelho e alunos da Oficina de Música sob orientação de Sônia da Silva | Fotografia: Djalma Limongi Batista | Elenco Infantil: alunos dos 1º, 2º e 3º anos da Escola Municipal de Bailado (EMB) (professoras Lenira Rengel, Cilô Lacava e Maria Mommensohn); alunos do Núcleo Morungaba de Dança/Arte e Movimento, (professora Renata Macedo); alunos da Escola Ruth Rachou (professora Lenira Rengel) | Equipe da dança: Ana de Andrea Galmarino, Anabel Andrès, Celso Fortunato, Daraína Pregnolatto, Denise Paiva, Elizabeth Menezes, Elisa Sugimoto, Lenira Rengel, Lucia Helena Navarro, Marco Antonio Xavier, Maria Mommensohn, Marta Sandler, Renata Macedo e Silian Fritschy.
O 2º Encontro Laban de Dança/Arte do Movimento foi realizado em outubro de 1992, no Centro Cultural São Paulo, na cidade de São Paulo.
Dando sequência ao primeiro Encontro de 1989, o objetivo foi reunir profissionais de diferentes áreas que levassem para a sua prática os conhecimentos sobre a Teoria de Rudolf Laban (1879 - 1958) e que se apropriassem da postura de pesquisador.
Coordenado pela bailarina, coreógrafa e professora Maria Mommensohn, foi oferecido um rol de oficinas de Dança Educativa e oficinas de Dança e de Teatro com profissionais de diferentes áreas dedicados aos estudos do corpo, à arte do movimento em diferentes contextos, à teoria de Laban, ao teatro, à inclusão social e à terapia. Além das oficinas, houveram sessões de vídeos comentados e espetáculos.
Ficha técnica do 2º Encontro Laban:
Coordenação: Maria Mommensohn | Realização: Escola Municipal de Bailado – Divisão de Artes Cênicas e Música | Apoio Cultural: Espaço de Dança Ruth Rachou, Espaço Viver Dança Cia., Klauss Vianna Escola de Dança, Casa Clínica Escola Amor e Teca Oficina de Música | Profissionais convidados: Anabel Andrés, Analívia Cordeiro, Angelo Gaiarsa (1920-2010), Cybele Cavalcanti, Diana Granato, Lala Deheinzelin, Leandro Fernandes, Lenira Rengel, Lúcia Kantor, Márcia Bozon, Maria Cecília Lacava, Maria Regina Machado, Mary Gandara, Mirian Leirias, Mônica Serra, Monica Steiner, Patricia Noronha, Renata Macedo, Sonia da Silva, Ulisses de Oliveira, Umberto da Silva (1951-2008), Vera Korngold e Yolanda Amadei.
Em 1992, sucessivos escândalos abalaram o governo do presidente alagoano Fernando Collor de Mello (março de 1990 a dezembro de 1992), eleito pelo Partido da Reconstrução Nacional (PRN), com a denúncia de tráfico de influências de Paulo César Farias, o “PC Farias” (1945 - 1996), tesoureiro da campanha de Collor à presidência.
O esquema de corrupção e o envolvimento do presidente foram comprovados, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) apresentou o relatório e entidades da sociedade civil, com o apoio da Ordem de Advogados do Brasil (OAB) e da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), deram entrada no processo de impeachment de Collor.
Em 29 de setembro de 1992, Fernando Collor sofreu o impeachment pelo Congresso, que o declarou inelegível por oito anos.
Foi afastado da Presidência após o início do processo de impeachment no Senado e o vice-presidente Itamar Franco (1930 - 2011) tornou-se presidente efetivo.
A encomenda de músicas compostas especialmente para o Grupo Corpo tornou-se uma característica da companhia. Em 1992, estreou a coreografia “21”, com música de Marco Antonio Guimarães executada pelo grupo mineiro UAKTI Oficina Instrumental, e figurinos elaborados pela arquiteta Freusa Zechneister.
“21” registrou a marca da companhia, com os novos movimentos criados pelo coreógrafo Rodrigo Pederneiras, de extrema beleza e brejeirice brasileira.
O Projeto Dança/Arte do Movimento (1984) – elaborado e desenvolvido por Maria Duschenes e equipe nas bibliotecas infanto-juvenis municipais de São Paulo – encerrou-se em 1994.
O embrião do Projeto surgiu em 1973, com a experiência voluntária da psicóloga e funcionária pública Regina Machado com crianças cegas, sob a supervisão de D. Maria. Em 1984, o reconhecimento do trabalho de Duschenes baseado na teoria de Rudolf Laban (1879-1958), pela Secretaria Municipal de Cultura, possibilitou a chegada da dança educativa na periferia e pela cidade, com grandes danças corais, nas quais qualquer pessoa poderia entrar e se expressar com liberdade.
No ano seguinte, a responsabilidade do projeto passou para Renata Macedo, aluna de D. Maria que acompanhou o projeto Dança/Arte do Movimento desde o início, e trabalha ainda hoje com dança educativa com crianças e jovens no Núcleo Morungaba.
Segundo o Departamento de Bibliotecas Infanto-juvenis, não foi dada a continuidade do projeto porque a prioridade era apoiar um trabalho voltado exclusivamente para crianças com deficiência.
Neste mesmo ano de 1994, em 1º de setembro, foi aberto o “3º Encontro de Dança Arte do movimento LABAN” com atividades distribuídas entre a Oficina Cultural Oswald de Andrade e o SESC Ipiranga, ambos em São Paulo.
O objetivo do evento, foi divulgar o método Laban e sua prática com a participação de diferentes profissionais nos espetáculos “Solos Cênicos”, em workshops e Palestras.
Ficha Técnica do “3º Encontro de Dança Arte do movimento LABAN”: Coordenação: Maria Mommensohn | Assistência : Uxa Xavier | Apoio Cultural: Oficina Cultural Oswald de Andrade da Secretaria do Estado da Cultura e SESC Ipiranga.| Professores: Analívia Cordeiro, Cristina Brandini, Cybele Cavalcanti, Jean-Pierre Kalestrianos, Joana Lopes, Julio Vilan, Lala Deheinzelin, Lenira Rengel, Maria Momnensohn, Márcia Bozon, Mônica Serra, Norberto Abreu e Silva Neto, Patricia Noronha, Paula Nestorov, Pedro Barreto e Yolanda Amadei | Palestrantes: Eugenia Casini Ropa e José Angelo Gaiarsa | Participantes de “Solos Cênicos”: Cristina Brandini, Lenira Rengel, Maria Momnensohn, Marta Soares, Patricia Noronha e Paula Nestorov.
Confira o acervoO presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi o primeiro presidente do Brasil a governar por dois mandatos consecutivos, de 1995 a 2002.
O primeiro mandato de FHC (1995 – 1998), como ficou conhecido, ficou marcado pelo Plano Real, com uma moeda estável que estabilizou a economia. E também pelas privatizações das empresas estatais, como a Vale do Rio Doce e Sistema Telebrás que lhe gerou l muitas críticas pela sociedade civil e pelos partidos de oposição, sendo acusado de benefício próprio.
No segundo mandato, de 1998 a 2002, dois fatos marcaram o país: com a crise internacional de 1999, FHC não conseguiu manter a paridade Dólar / Real e o “apagão” que afetou o fornecimento e a distribuição de energia elétrica que gerou uma crise nacional, sendo estipulada uma meta mínima de consumo.
O Grupo de Improvisação de Maria Duschenes se apresentou em 1996, no auditório da Faculdade Armando Álvares Penteado (FAAP).
Desde 1991, D. Maria foi diminuindo o ritmo de trabalho, mas seus alunos, a exemplo da educadora da arte do movimento e criadora de coreografias instigantes como era D. Maria, prosseguiam em seus próprios caminhos, pesquisando sobre o movimento humano.
Em julho de 1996, a bailarina e coreógrafa Maria Mommensohn organizou, em parceria com o Centro Laban de Dança e Arte do Movimento do Brasil (1987), o IV Encontro Laban, no SESC Consolação, em São Paulo. O encontro contou com a presença de pesquisadores, bailarinos, coreógrafos, psicólogos, educadores, estudantes, entre outros interessados na análise de movimento de Rudolf Laban (1879-1958) e de Maria Duschenes.
Aproximadamente 200 pessoas participaram por três semanas de danças corais, seminários, workshops, debates, vivências e outras atividades que ocupavam o dia todo. Segundo Mommensohn, a partir deste Encontro, observou-se a importância de repensar o “Encontro Laban” como registro histórico e difusor da pesquisa sobre o corpo, o que resultou na publicação “Reflexões sobre Laban, o mestre do Movimento”, organizada por ela e pelo bailarino e arte-educador Paulo Petrella.
Participantes do IV Encontro Laban: Acácio Ribeiro Vallim Junior, Ana Maria Barros, Christine Greiner, Ciane Fernandes, Helena Katz, Jorge de Albuquerque de Oliveira, Juliana Carneiro da Cunha, Lenira Rengel, Lia Robatto, Maria Cecília C. Lacava (Cilô), Maria Cláudia Alves Guimarães, Norval Baitello Junior, Paulo Petrella, Renata Macedo Soares Neves, Sandra Lúcia Gomes, Sonia Silva, Takao Kusuno (1945-2001), Felícia Megumi Ogawa (1945-1997), Ulisses Ferraz de Oliveira, Yolanda Amadei, entre outros.
Confira o acervoEm 7 de julho de 1999, Maria Duschenes participou do evento “São Paulo Dança Moderno", no Sesc Pinheiros, na cidade de São Paulo.
A idealizadora e curadora do evento, Cássia Navas, organizou vários encontros com profissionais da dança e intelectuais de outras áreas para refletirem sobre a contribuição de algumas personalidades no desenvolvimento na dança moderna brasileira, como Ismael Guiser (1927 - 2008), Márika Gidali, Renée Gumiel (1913-2006), Ruth Rachou e Sônia Mota.
No evento Duschenes falou sobre sua carreira e teve como interlocutor o psicanalista e professor João Augusto Fraize-Pereira, com a mediação de Cássia Navas.
Após o debate, Patrícia Noronha, bailarina formada por Duschenes, fez uma apresentação em sua homenagem, e no dia seguinte D. Maria realizou uma master class.
Nesse mesmo ano, de 05 a 29 de agosto, Maria Duschenes foi representada por seus alunos em projeção de filmes e exposição de fotos, no “Projeto Tandanz Dramaturgia do Corpo – Laban em Cena”, no Instituto Goethe, em São Paulo.
O evento em comemoração aos 120 anos da morte do bailarino, coreógrafo, teórico e educador Rudolf Laban (1879 - 1958) foi organizado pelo Instituto Goethe em parceria com os organizadores do “Encontro Laban”.
O Tandanz teve em sua programação: Espetáculo: “Nus Vestidos” de Maria Mommensohn e Grupo de Improvisação coordenado por Duschenes | Exposição: cerca de 70 fotos de retrospectiva de seu trabalho no Brasil | Projeções de filmes (acervo do Instituto Goethe): "Nota-Anna", de Analívia Cordeiro, e "Laban-Movimento", com roteiro de Maria Mommensohn e Leo Halsman – que foi quem abriu todas as sessões.
Maria Duschenes começou a ter sintomas do mal de Alzheimer nesse mesmo ano. A família a levou para morar em seu apartamento no Guarujá (SP), perto do mar e da areia dos quais ela tanto gostava.
Faleceu no ano de 2003, aos 89 anos, em Curitiba (PR), Herbert Duschenes, que além de arquiteto e professor de História da Arte, foi grande companheiro e motivador da vida artística de D. Maria. Herbert contribuía sempre nos espetáculos e aulas da esposa – seja na criação da luz, do cenário e nos registros em vídeos e fotos da trajetória de D. Maria.
Em oito anos (2003 - 2010) de governo, o presidente e ex-metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT), chegou a 83% de aprovação popular, considerado o maior patamar entre presidentes desde o fim da ditadura até a eleição da presidenta Dilma Rousseff (PT). Isso deveu-se aos índices históricos de crescimento econômico e de redução da pobreza, aos avanços nos setores de economia e inclusão social.
O primeiro mandato de Lula (2003 - 2006) sofreu escândalos de corrupção e arranhou a imagem do PT, mas conseguiu dar continuidade aos programas implantados com a vitória de seu segundo mandato (2007 - 2010).
De forma surpreendente, sua sucessora, Dilma Rousseff, se elegeu em 2011.
Em 10 de setembro de 2006, morreu a bailarina, coreógrafa e atriz francesa Renée Gumiel (1913 – 2006) aos 92 anos, em São Paulo.
Considerada precursora da Dança Moderna no Brasil, se estabeleceu em São Paulo e abriu três escolas na cidade, além de participar de vários espetáculos de dança e teatro, teve um programa quinzenal de dança, na TV Cultura, entre outros.
Trabalhou até alguns dias antes de sua morte, atuando com o grupo Oficina Uzyna Uzona, na peça "Os Sertões", sob a direção de Zé Celso Martinez que a considerava "imortal, uma deusa”.
Em 22 de setembro de 2006, foi criado o Teatro de Dança (TD) pelo Secretário de Estado da Cultura, João Batista de Andrade, no antigo Teatro Itália, no Edifício Itália, no centro de São Paulo (SP). O Ballet Stagium apresentou “Kuarup ou a questão do índio” (1977) de Décio Otero.
O TD foi criado, inspirado no Teatro de Dança Galpão (1974 – 1981), sediado no Teatro Ruth Escobar, em São Paulo, ponto de encontro de bailarinos e de troca de experiências. Com o objetivo de criar público para a dança, o TD recebeu grandes companhias e grupos de dança. O projeto teve recursos da própria Secretaria de Estado da Cultura, da nova lei de incentivo à cultura- Programa de Ação Cultural (PAC) e apoio da Associação Paulista dos Amigos da Artes (Apaa).
A pesquisadora Cássia Navas, permaneceu como curadora do projeto até o seu fechamento em 2011.
Em janeiro de 2008, a São Paulo Companhia de Dança (SPCD) foi fundada pelo Governo do Estado de São Paulo, tendo inicialmente, à frente de seu trabalho, as ex-bailarinas Iracity Cardoso e Inês Bogéa como diretoras.
É uma companhia de repertório, do clássico ao contemporâneo com montagens de coreógrafos brasileiros e internacionais. Além dos espetáculos, desenvolve “ Programas Educativos” para professores e alunos, de “Formação de Plateia” para todas as idades, o projeto de memória, “Figuras da Dança” sobre a vida e obra de profissionais da dança, o seminário Internacional de Dança e o Ateliê Internacional São Paulo Companhia de Dança, esta última como uma vivência teórico-prático de alunos do Brasil todo, professores, coreógrafos, fotógrafos, pesquisadores, pianistas, entre outros.
A SPCD já se apresentou em dezenas de países diferentes e já teve nesses 8 anos, inúmeros contatos e trabalhos com profissionais da dança que vêm de outros locais para remontagens ou para uma criação nova.
Entre os coreografia apresentadas, estão Indigo Rose (1998), Petite Mort (1991) e Sechs Tänze (1986), todas de Kylián; Gen (2014) de Cassi Abranches; Peekaboo (2013) de Marco Goecke, The Seasons (2014) de Édouard Lock e os clássicos Romeo e Julieta (2013), de Giovanni Di Palma, e O Sonho de Dom Quixote (2015), de Márcia Haydée entre outros.
Atualmente, Inês Bogéa é a diretora da Companhia.
Maria Duschenes faleceu em 5 de julho de 2014, em sua casa no Guarujá (SP).
Além do apoio de seu marido Herbert Duschenes (1914-2003), filhos e netos, D. Maria teve sempre por perto Maria Luiza dos Santos Marques, que foi governanta, cozinheira e sua principal cuidadora até o momento final de vida de D. Maria.
O legado de Maria Duschenes é como o mar: sem fim e sempre em movimento.
Educadora e pesquisadora do movimento humano, D. Maria generosamente emprestava o seu olhar para o repertório de movimento de cada aluno, abrindo caminhos para que escolhessem a própria forma de dançar.
Formou gerações de bailarinos, coreógrafos, professores, terapeutas, estudantes, pesquisadores e outras profissões. Todos estes ex-alunos dão continuidade de alguma forma ao trabalho de D. Maria, permitindo que seus princípios continuem vivos.
Em 21 de setembro de 2014, um grupo de ex-alunos de D. Maria, junto de pesquisadores, professores e músicos, reuniram-se pela paz e para homenageá-la com a “Dança Coral Primavera de Duschenes”, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo.
Todos vestidos de branco, dançaram na escultura Sectiones Mundi, de Denise Millan, atentos ao canto dos pássaros, aos sons de água, à luz do sol e às folhas das árvores.
Participantes “Dança Coral Primavera de Duschenes”: Analivia Cordeiro, Cecília Pellegrini, Cilô Lacava, Claudia Rodriguez, Cybele Cavalcanti, Elisa Abrão, Jasminne Paiva Barbosa, Dinho Nascimento, Maria Mommensohn, Marília Souza, Renata Macedo, Ronaldo Duschenes (filho de D. Maria), Solange Arruda, Warla Paiva e outros.
Confira o acervoDesde agosto de 2014, o Centro de Referência da Dança da Cidade de São Paulo (CRDSP) está aberto para receber o público na antiga sede da ex-Escola Municipal de Bailado (hoje chamada Escola da Dança de São Paulo), nos baixos do Viaduto do Chá, s/nº. , no centro da cidade de São Paulo (SP).
O CRDSP nasceu da discussão sobre a proposta de gestão apresentada pela Cooperativa Paulista de Dança, que representa os profissionais de dança do estado de São Paulo. A proposta é possibilitar diferentes ações de formação, reflexão e produção em consonância com a Secretaria Municipal de Cultura (SMC).
O CDDSP disponibiliza salas de ensaios para artistas individuais ou para grupos de dança, oferece cursos e workshops de diferentes estilos de dança, organiza encontros com profissionais da dança de diferentes lugares, apresentações e outros projetos.
O CRDSP é gerido por uma equipe que responde pela programação e organização das atividades, com a coordenação artística e pedagógica nomeada.