MUSEU DA DANÇA

A origem e evolução do ballet

Imagem: pixabay.com | Terça, 14 de Agosto de 2018 | por Natália Gresenberg |

Falar sobre a história da dança é falar sobre o surgimento da dança cênica, da sistematização dos códigos e de sua evolução durante os séculos até a contemporaneidade. No entanto, é importante ressaltar que a dança está presente desde os primórdios do homem. Desde a pré-história, com caráter essencialmente ritualístico, o homem dançava como forma de interação social e religiosa: a dança da colheita, da chuva, do casamento, das guerras, da fertilidade, da caça, de adoração aos deuses, dentre tantas outras impensáveis e não catalogadas. Há inclusive relatos bíblicos de reis e profetas que dançaram.

Esse fato reforça a relevância da dança como forma de manifestação do homem como indivíduo, lembrando que dançar, em última instância, é uma das maneiras de expressar a identidade cultural de um povo, mas também a essência de cada indivíduo, seus sentimentos/pensamentos. Existem diversas formas de dançar, não sendo imperativo adotar exclusivamente um estilo ou código para determinar se uma pessoa dança ou não. Dançamos, por isso existimos! Mas falaremos sobre isso em outra publicação.


SÉC. XV

Mas para traçar uma cronologia histórica da dança como arte, ou seja, feita para um público espectador, é preciso remontar à meados do século XV, mais especificamente com o surgimento das regras de etiqueta palaciana que passou a ser adotada pela nobreza da corte italiana durante o Renascimento. Em que pese a dança acontecesse também dentre os camponeses, como forma de manifestação festiva, o balé tem sua origem nas danças da corte. Nesta época, espetáculos eram organizados com banquetes, dança e drama, como foi o caso do ambicioso “Le bal­let Comique de la Reine” (Balé Cômico da Rainha), organizado pela Rainha italiana Catarina de Médici em 15 de outubro de 1581 e considerado oficialmente como o primeiro balé. Foi coreografado pelo mestre de dança, o italiano, Balthasar de Beaujoyeux.

Nasce assim o conceito do “Balé da Corte” que se popularizou dentre a corte europeia como um baile organizado com dramaturgia para um público espectador. Daí evoluiu para o aprimoramento das danças palacianas, com métricas, poses e virtuosismo, exigindo cada vez mais habilidade dos dançarinos.


SÉC. XVII

Então, em 1661 é criada em Paris pelo Rei Luís XIV, um grande apaixonado por dança, a Académie Royale de Danse (Academia Real de Dança). Foi o primeiro grande passo para o desenvolvimento desta técnica. A primeira bailarina formada por essa escola foi Mademoiselle de Lafontaine, também reconhecida como a primeira bailarina profissional da história. O grande mestre da Academia Real de Dança foi Pierre Beauchamps, responsável pela sistematização das cinco famosas posições dos pés em en dehors além de muitas terminologias que usamos até os dias de hoje.

Outro grande passo para a profissionalização do ballet foi a criação de uma academia de dança dentro da Académie Royale de Musique (Academia Real de Música), em 1672. Essa instituição existe até hoje como o Ballet da Ópera da Paris e é considerada a companhia de dança mais antiga da história.


SÉC. XVIII

Em 1738 foi inaugurada a segunda escola de ballet do mundo, a Escola Imperial de Ballet de São Petersburgo, na Rússia, hoje conhecida como Academia Russa de Ballet – A.I.Vaganova.

A grande revolução no ballet aconteceu em 1760 com o francês Jean-Georges Noverre, que foi o criador do ballet sem falas, ou o bal­let d’action. A dramaturgia das peças de ballet era alinhavada pela movimentação dos bailarinos, que expressavam características, e pelo uso de pantomimas que exploravam a emoção do personagem. É nesse momento que o ballet se destaca da ópera e do teatro, ganhando projeção para seguir como uma arte independente das demais. Sua importância para a dança é tamanha que o dia internacional da dança é comemorado em 29 de abril, o dia de seu aniversário.

A partir de então os figurinos começam a se adaptar a essa nova realidade, as máscaras deixam de ser utilizadas, o sapato de salto é abandonado e substituído por um mais flexível, tanto para homens como mulheres, e também as vestimentas ficam mais leves.


SÉC. XIX

Tem início o período Romântico nas artes e o ballet começa a adquirir os códigos que conhecemos hoje. Carlo Blasis, um dos grandes influenciadores de Enrico Cecchetti (falaremos dele oportunamente), publicou em 1820 uma análise das técnicas de ballet intitulada Tratado ele­men­tar da teo­ria e prá­tica da arte da dança e em 1828 publicou o Código de Terpsichore, um “catálogo” de poses de dança.

Em meados da década de 20 do século XIX a técnica das pontas começou a ser explorada e Maria Taglioni, aclamada bailarina da época, é considerada umas das primeiras bailarinas a dançar nas pontas. Os figurinos passam a ser leves e delicados e as bailarinas representam figuras etéreas.

Os primeiros ballets de repertório são criados. Em 1832 La Sylphide, em 1841 Giselle. Marius Petipa se consagra como mestre e coreógrafo ao criar as obras: Don Quixote (1869), La Bayadére (1877), A Bela Adormecida (1890), O Quebra Nozes (1892) e O Lago dos Cisnes (1895).   


SÉC. XX

O apreço pelos ballets românticos de Marius Petipa entra em declínio e o público aclama por ideias mais modernas.

O ballet já tinha ganhado mais projeção na Rússia do que na França e, em 1909 é fundada em Paris pelo russo Sergey Diaghilev, que estava ciente dos novos anseios do público, a companhia o Ballet Russes. Grandes bailarinos e coreógrafos fizeram parte: Ana Pavlova, Nijinsky, George Balanchine, Leonid Massine, e Mikhail Fokin. A cia encenou qua­tro obras pri­mas: O Pássaro de Fogo (1910), Petrouchka (1911), a obra vanguardista A Sagração da Primavera (1913), e Pulcinella (1920).

Foram séculos de um longo desenvolvimento da técnica clássica, mas a história da dança cênica não se encerra aí. Com a modernidade e as constantes transformações sociais, o modo de pensar, fazer e apreciar a dança fica em constante e acelerada alteração. Diversos movimentos artísticos surgem concomitantemente na dança nos Estados Unidos e na Europa que implicam na ruptura com o ballet clássico.

Nas próximas publicações abordarei o surgimento do ballet neoclássico, a dança moderna, contemporânea, no mundo mas também no Brasil.



REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA E FONTES DE PESQUISA:


AMARAL, Jaime, DAS DANAS RITUAIS AO BALLET CLÁSSICO, http://www.revistaeletronica.ufpa.br/index.php/ensaio_geral/article/viewFile/95/25


CAMINADA, Eliana, DANÇA E SUA EVOLUÇÃO: OS RUMOS DO BALLET E A DANÇA CONTEMPORÂNEA, http://www.portaldafamilia.org/artigos/artigo859.shtml


SILVERIO, Ana, A HISTÓRIA DO BALLET, http://anabotafogoboutique.com.br/a-historia-do-ballet/


Wikipedia: https://en.wikipedia.org/wiki/Carlo_Blasis


Publicado por :



Natália Gresenberg

Gestora cultural e advogada



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